De Crinas, Peregrinas e Maçãs

Solta esta crina ao vento
e sobe ali
naquela árvore
para saborear uma maçã
que pode estar cheia
empanturrada de veneno
de-sabor
até de um toque de hortelã

Mas sobe mesmo
por que é esta a tua
Liberdade
teu sonho pode ir até à Lua
peregrina
e conquistar pessoas nuvens
e cidades

E vai ao topo
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A Adormecida

na manhã de domingo
a mulher desperta
de um sono secular
nem mais jovem
nem bela
ai! como dói
quando a alma fica
e o corpo vai!

À Minha Mãe

À pessoa que me deu a vida,
ensinou-me a falar, caminhar, rezar
ficou ao meu lado
em tempos de tempestade
orou por mim
em momentos de dificuldade
seguiu meus passos, riu meus risos
chorou meus prantos
sentiu na pele a dor da separação
rogou Leia mais

Já Tinha Eu a Aurora

já tinha eu a aurora
passeando em meu olhar
fingindo a calma
que o amor não tem
quando entrou manso
mas definitivo
com cheiro pele suor e prazer
aquele de quem bem quis eu
ser a bem querida amada amante
inteiramente indivisível
como é Leia mais

Poema em Prosa II

Na noite chuvosa, meu teto não é abrigo, mas trilha: um estreito corredor que não abafava as marteladas sobre o zinco suspenso pintado de branco e mofo. As laterais desnudas apenas cortinavam a paisagem noturna com filetes d’água que escorriam do teto ondulado e poças ganhavam terreno pelo Leia mais

O Monte, O Fim

Gostava de saber o porque de tantos papéis.
Junto-os por todos os cantos, bolsos, carteiras, dentro de livros e,
como se não fosse o bastante,
tenho alguns fichários para guardar anotações que,
diga-se de passagem e de chegada,
nunca leio.
De nada servem,
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Hemingway

Não compartilhei uma façanha
com o velho pescador de Ernest Hemingway
mas conheço algo do mar.
Conheço homens
que ao perderem algumas lutas
são nelas os únicos vencedores.

Haicais

1.
Um pequeno passarinho,
Pousa-me na janela
incendiando a tarde.
2.
A estante de livros,
a capa cintilante dos livros,
os óculos e as palavras.
3.
Tateando no escuro
a mão encontra o despertador
que toca Ave Maria de Schubert.
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Livramento

Não há estrelas no meu caminho para Deus.
E nem anjos, nem trombetas, nem túneis luminosos
ou uníssonos corais, no meu caminho para Deus.
No meu caminho para Deus só há o meu quarto,
quatro paredes brancas, um papel de fundo negro,
a dor, uma porta, um abismo para Leia mais

Diapasão

Dói-me escutar
a tua palavra inerte
o teu silêncio tolo
como um diapasão
a modular
o nosso fim
sem começo