Era uma vez… porque histórias que começam com era uma vez são lindas demais… Era uma vez uma menina muito pobre, meio feinha e vesga, que gostava de estudar e pintar.
O nome dela era Josefina e os meninos, quando ela passava vestidinha com seu uniforme bem passadinho, gritavam em coro:
– Ei, Josefina! Você tem uma perna grossa e a outra fina!!!
Josefina queria chorar, mas engolia o chorinho, e lá ia ela com sua mochila cor de abóbora, outro grande motivo de gozação na escola.
Como era muito pobre, não conseguia ter uma caixa de lápis de cor decente, só aquelas com seis lápis pequenos (e um, ainda por cima, era branco!) Sonhava ter uma caixa dessas bem grandonas, com 48 lápis, aqueles tons maravilhosos. Mas, boazinha, se contentava com tudo. E lá ia aprendendo tudo também, inteligente que era.
O tempo passava rápido e ela sempre estudando. Os meninos agora tinham outro jeito de zombar dela:
– Ei Josefina! Pra que lado você está olhando? Caolha, caolha, quando estava grávida sua mãe comia rolha!!! Caolha, caolha, quando estava grávida sua mãe comia rolha!!!
Josefina se aborrecia, ia lá tocando sua vidinha, estudando nos seus caderninhos, lendo os seus livrinhos, aprendendo um pouco de tudo. E crescia.
Um dia, fez aniversário. Estava ficando mocinha.
A professora deu-lhe de presente uma caixa de lápis de cor: 36 cores, não as 48, mas Josefina, quando abriu o pacotinho ficou tão alegre, tão feliz… que emudeceu. Não disse nenhuma palavra, ficou ali, de pé, na frente da professora e uma lagriminha de muito obrigada escorreu pelo rosto…
Engraçado, pensou a professora: essa menina só chora com o olho direito!
Todo mundo aplaudiu, cantou parabéns e até a tia da merenda deu a Josefina um prato maior de sopa nesse dia.
A diretora deu a ela uma resma de papel e, se você não sabe ainda, uma resma quer dizer 500 folhas, é coletivo para 500 folhas de papel…
E quando acabaram as aulas ao meio dia, Josefina se pôs a correr sobre a calçada molhada, querendo mostrar pra mãe a caixa de lápis de cor.
Mas olhou para o céu e viu um lindo arco-íris. Ficou parada ali na esquina, olhando a pintura de Deus.
Os meninos passaram, olharam pra ela e gritaram em coro:
– Josefina é uma linda menina!!! Josefina é uma linda menina!!!!
Ela sabia, já.
É que eu me esqueci de contar que ela tinha ido ao médico e que , como num passe de mágica, ele consertara o olho torto da menina. E A mãe era tão caprichosa e , além de passar muito bem as roupinhas da filha, cuidava lindamente do cabelinho dela.
Pra dizer a verdade, era um cabelinho espetado, desses em que dá vontade de passar a mão, mas a menina, de rabinho e laço, crescendo, crescendo, está ficando linda mesmo.
Os meninos agora sabem e gritam quando ela passa:
– Josefina é uma linda menina!!! Josefina é uma linda menina!!!