Histórias de Crianças V

1- O VÉU NA CABEÇA DA TIA
A tia era membro de uma igreja muito tradicionalista. E os dois meninos participaram do culto daquela noite de sábado.
Chegaram assim, desconfiados. Repararam na divisão: homens de um lado, mulheres de outro. Uma gente esquisita, que não falava nada. Um silêncio inacreditável, absoluto. Medo.
Eis que, de repente, salta da bolsa da tia um véu! Um véu branco, rendado. O menino mais novo principiou um esboço de choro.
– Tia, por que é que você tá colocando isso aí na cabeça?
A tia tentou desconversar. Sussurrou ao ouvido do pequeno:
– É pra tia ficar mais bonita.
O menino, encabulado e desentendido, continua, também num sussurro:
– Mas você tá feia.
2 – BARCO A VELA
A mãe chega apavorada:
– Meu Deus! Tá pegando fogo no quarto do Marcelo! Traz a água, Domi!
O menino, assustado, vendo o colchão pegar fogo.
Chuááááááááá!!!! Baldes e baldes dágua.
Mãe pesadona, grávida. Marcelo, olhos azuis, já sabedor da bronca que estava por vir.
– Como é que você foi fazer isso, Marcelo?
– Mãe, foi o seguinte: eu estava brincando de barco a vela. Mas na minha coleção de “Playmobil” não tinha nenhum, nenhunzinho. Então eu peguei aquele barquinho de papel que você fez pra mim hoje cedo e acendi uma vela dentro dele. Mas acho que não deu muito certo, aí ó, cadê meu colchão?
3- COMO OS BEBÊS VÊM AO MUNDO
A menina tinha quatro anos. Talvez nem isso. Adorava visitar a amiga da mãe. Vera tinha dois filhos, Marlon e Vanessa, e era muito atenciosa. Conversava com a menina como se ela fosse um adulto. Foi assim que:
– E você, vai querer um irmãozinho?
– Eu vou.
– E como ele vai chamar?
– Ainda não sei. Vai ser “Boi”.
– Boi? Mas que nome esquisito.
– Não é esquisito, “boi” é inglês, quero um menino.
– Ah! E como é que ele vai chegar?
– Ué, um homem vai trazer ele.
– Um homem? Mas que homem?
– Ah, aquele mesmo que “trazeu” a Vanessa.
4 – O FOGÃO QUE PEGOU FOGO
Tinha sido um dos presentes de aniversário. Um fogão e um jogo de panelinhas. E lá se vinham iguarias das mais diversas: capim, hortelã que achava no quintal, folha de bananeira, pedrinhas.
Mas aquilo tudo já estava ficando monótono. Foi então que teve uma luminosa idéia:
– Espera um pouco, Ceci. Vou lá dentro buscar um negócio e já venho.
Voltou sorrindo. Objetivo alcançado.
Riscou o fósforo. Uma chamazinha surgiu e foi parar num pedaço de papel.
– Aí, Ceci, agora a gente vai ter comida de verdade.
Que ilusão! Fez foi derreter o fogão. Era de plástico.
5 – FALA BAIXO
A avó levou Ana Beatriz à igreja. Hora do sermão, silêncio absoluto.
Mas a menina era esperta. Esperta e curiosa:
– Vó, por que é que tá saindo aquela fumaça lá na mão do padre?
A avó, dedo nos lábios:
– Fala baixo, Ana!
E Ana Beatriz:
– BAIXO! no mesmo tom de voz.
E a avó:
– Não, Ana, não é pra falar “baixo”… ou melhor: é. Ai, menina, fica quieta!