Nhoque a Quatro Queijos

– Alô.
– Pablo?…
– Ei… Tá jóia, Linda?…
– Tô sim…
– Dormiu direitinho?…
– Anrã…
– Tô com saudade…
– Eu também… Não te vejo desde ontem…
– Pois é.
– Mas eu tenho um convite pra te fazer.
– Oba!
– A minha mãe tá fazendo um almoço especial pra você hoje.
– Nossa!
– Ela falou que você merece. O genro favorito dela…
– Também… sou o único.
– Pelo menos ela gosta de você.
– É…
– Voltando ao almoço, ela vai fazer seu prato preferido. Você não pode deixar de vir.
– Deixo de fazer qualquer coisa por uma lasanha!
– Um nhoque, né?
– Nhoque?!
– É… Nhoque a quatro queijos, seu prato favorito.
– Mas eu odeio nhoque!
– Como assim?! Não é seu prato predileto?
– Nunca! Odeio nhoque! Aquele monte de bolinha sem gosto… Arg!
– Ah, mas agora vai ter de comer.
– Mas eu não gosto.
– Não tô nem aí… a mamãe tá fazendo de tudo pra te agradar. Agora, você vai ter de comer e ainda achar bom.
– Tudo que eu queria pro meu Domingo…
– Não vem com ironia. Vai comer e pronto. Tô te esperando aqui em casa. Daqui a duas horas, tá?
– Fazer o quê, né?

Duas horas depois.
– Linda, a campainha! Vai abrir… deve ser o Pablo.
– Tá bom. Oi, amor…
– Oi… Cadê sua mãe? Eu não sei se vou conseguir comer.
– A mamãe tá na cozinha. Calma. E vai comer sim, senhor.
– Mas eu não gosto de molho com queijo. Ainda mais com quatro queijos!
– Já conversamos sobre isso. Vamos lá que a mesa já tá pronta.

– Oi, dona Lucídia.
– Oi, Pablo. Fiz um nhoque especial pra você.
– Hummm… deve estar uma delícia.
– Hehe…
– Do que você tá rindo, Linda?
– Nada, mãe.
– Pablo, vou servir pra você.
– Não… Pode deixar que eu mesmo…
– Pronto.
– Nossa! Isso tudo?
– Não vai ser nenhum sacrifício comer bastante do seu prato favorito, né?
– De jeito nenhum… Ainda mais que foi a senhora que fez.
– Vocês fiquem à vontade. Eu vou chamar o Manoel pra vir comer.
– Tá bom…
– Linda, telefone!

– Espera aí que eu vou atender lá dentro. Come direitinho, viu?
– Pode deixar.

– Uai, Pablo… Cadê a Linda?
– Tá no telefone ainda…
– Essas meninas…
– Cadê o Seu Manoel?
– Dormiu vendo televisão. Depois ele come. Você já acabou?!
– Já… Tava uma delícia!
– Come mais…
– Não!!! Não… não… eu comi o bastante, dona Lucídia. Brigado.
– Mas você gosta tanto…
– Evito comer demais… Tenho medo de enjoar. Igual com música que a gente gosta. Se ouve de mais acaba enjoando.
– Já me convenceu…
– E, além disso, gula é pecado, né?
– Pra quem acredita, é.

No outro dia.
– Alô.
– Pablo?
– Oi…
– Acordou agora?
_Tem uns dez minutos…
– Ah…
– Aconteceu alguma coisa? Você tá estranha…
– Aconteceu, sim…
– O quê?
– O Totó morreu.
– Totó, seu cachorro?
– Pablo! Meu cachorro chama Atlas. Totó é o gato da minha mãe. Ela tá arrasada…
– Não sabia que sua mãe tem um gato.
– Tinha, né? Era o Totó…
– E como ele morreu?
– Parece que engasgado.
– Engasgado?
– É… com um pedaço de nhoque.
– Ah…
– O estranho é que ninguém sabe como ele comeu esse nhoque… Ele nem entra na cozinha. Fica só na porta.
– Sei…
– Por que você tá tão monossilábico?
– Nada… Ô Linda, esse gato da sua mãe era meio cinza?
– Isso… Lembrou agora?
– É… Linda, você jura que não vai brigar comigo?
– Como assim?
– Preciso te contar uma coisa.
– O quê?
– Lembra do meu prato de nhoque?
– Que você comeu numa garfada só? Lembro muito bem… você me surpreendeu.
– Foi o gato.
– O quê?
– Dei pra ele. O gato comeu…