O Pé de Mamão

Eu tinha três anos de idade quando minha professora perguntou qual era meu sonho.
_ Fazer cinco anos! ­ era certeza das mais certas.
_ Por quê? Ora, sonho a gente escolhe um difícil de realizar.
_ Meu sonho é fazer cinco anos.
_ Mas pra quê?
_ Pra eu subir no pé de mamão lá da minha casa.
_ Ahn?
_ É, tia Cláudia… e pegar um mamãozinho verde.
_ Tá bom… E você, Aninha?
_ Eu quero ter oito filhas e ser professora e ser polícia e aparecer na televisão…
Não dava pra entender porque sonhos tão complicados. Eu queria mesmo era ter cinco anos. Na rua da minha casa – e, naquela época a gente ainda podia brincar na rua – todos os meninos tinham cinco anos, seis, sete! E eu, três. Eles até andavam de bicicleta sem rodinha… Mas aí eu pensava: um dia eu ainda vou fazer cinco anos… e eles vão ver. A alegria durava até eu me dar conta de que quando eu tivesse cinco anos, eles teriam sete, oito, nove… Ah!
De qualquer maneira, um dia, eu faria cinco anos e subiria no pé de mamão. Isso ninguém podia tirar de mim.
O tempo passou devagar. É, porque antes de fazer cinco anos, eu tinha de fazer quatro, e viver um ano inteiro sem ter feito cinco anos. O pé de mamão ia crescendo, mas não o bastante pra me deixar desanimado. Eu ia ter cinco anos… poderia fazer qualquer coisa. Até andar de bicicleta sem rodinha, e, quem sabe, ganhar um Atari!
Um ano depois de fazer quatro anos, eu fiz cinco. Teve uma festa lá em casa. O mesmo de sempre: bolo, brigadeiro, cajuzinho e aquele nojo de olho-de-sogra. Na manhã seguinte, eu acordei bem cedo. Tomei um reforçado café da manhã, pois, afinal, a tarefa que viria pela frente ia ser dura. Terminado o lanche, calcei meu conguinha novo, coloquei a blusa dos Thundercats, o boné dos Comandos em Ação. Cheguei ao terreiro. Olhei pro pé de mamão ­ já estava na hora. Respirei fundo e dei um pulo direto pra árvore. Agarrei o tronco com minhas duas mãos e então… bem, então, pé de mamão quebrou. Caímos juntos. Levantei lacrimejando, em parte pelo susto, parte pelo tombo, parte pelo pé de mamão. E pior: nem tinha mais um mamãozinho verde no alto do pé… já devia ter ficado maduro, e meu pai comeu. Aí comecei a chorar, já ciente de que devia ter subido ao pé de mamão antes ­ talvez, quando ainda tinha quatro anos…