Às vezes, a vida parece estar caminhando no seu curso normal, seguindo sua rotina diária, e quando as pessoas menos esperam, ela nos aplica uma surpresa, no caso de Letícia, um desafio. Aceitando ser desafiada, Letícia deliberou que havia desafiado a ela mesma. Mais tarde, ela foi envolvida por uma onda de sentimentos que a entorpeceu, por temer que não tivesse um bom desempenho. Letícia se esquecera de que o resultado seria menos importante do que sua tentativa, seu esforço. Já que caso não tivesse gostado do produto final, poderia tranqüilamente refazê-lo, pois, tudo na vida pode ser melhorado e depois de pronto, fica muito mais fácil avaliar os erros cometidos.
Ela no afã de produzir algo mirabolante, durante dias, não conseguiu dar um passo sequer, sentia-se atada pela sensação de estar encarando o novo, o desconhecido. Porém, Letícia buscava veementemente conhecer esse assustador desconhecido. Notou que quanto mais ela se aproximava de seu desafio, menos amedrontador ele se afigurava. No entanto, precisava atirar-se sobre ele, não bastava estar próxima. E assim o fez e foi necessário destruir o que a atrapalhava, o que a paralisava a fim de que Letícia construísse uma cidade modificada, cidade esta que consiste em seu interior, em sua alma. No instante em que descobriu que ela mesma havia colocado cada tijolo na edificação de sua cidade, era como se ela tivesse seguido as cores do arco-íris e no final tivesse encontrado um pote de ouro; mas, a felicidade a qual Letícia de fato achara, sentindo-a ao avistar a Feliz Cidade era mais relevante do que o ouro porque não pode ser comprada, e sim, conquistada.
Entretanto, Letícia não chegou a essa cidade facilmente e sem preocupações. Surgiram momentos tensos, angustiantes que não a impediram de prosseguir. Durante a caminhada, ela assumiu para si mesma que era covardemente corajosa, já que o medo e a insegurança eram seus vizinhos. Até o desespero que parecia estar tão longe dela, abraçou-a calorosamente. Letícia refletiu: – quanto mais eu tento fugir do meu desafio, mais estarei presa a ele. Existia, no entanto, algo mais prazeroso, poderoso do que o vendaval de sentimentos que a enovelaram: a sua fiel vontade.
Diariamente as pessoas enfrentam os desafios que são colocados em seus caminhos, Letícia, com sua dedicação e com sua persistência, triunfara em seu desafio íntimo. Conheceu, então a cidade feliz, a sua Feliz Cidade que não está completamente pronta porque vai sempre mudando, se formando e se desmanchando, estando sempre em construção. Por outro lado, o seu fundamental ingrediente é a felicidade; a felicidade pode ser elástica, se alargando, se espalhando pelo corpo todo. Letícia a sentia espaçosa dentro dela, envolvendo o seu corpo e a sua alma. Busca-se a felicidade, e certamente ela é encontrada. Vivendo na Feliz Cidade, Letícia chegou a uma conclusão: – quando menos se espera pela felicidade, é o momento em que mais se esperava por ela, e é justamente, a ocasião em que ela aparece.
Letícia estava enlevada com a cidade encantadora por onde passeava, mesmo sem estar ao menos com um esboço de sorriso em seus lábios, percebeu que sorria internamente. Viu um pomar de sentimentos nobres, mas enxergou também árvores com frutos verdes e outras com frutos maduros. E ainda, frutas desconhecidas cruzaram sua visão. Ela se extasiara com o pôr-do-sol, com a beleza daquela imagem única, em movimento. Sol esse, que apesar de ser o mesmo, nunca será igual ao do dia anterior, da mesma forma que as pessoas. Letícia continuou se deleitando em seu passeio, se encontrava sozinha, e não, solitária. Além disso, só ela poderia transitar livremente por esse lugar tão familiar e ao mesmo tempo, tão misterioso que é a sua Feliz Cidade.