Sem despedida

Ela leu o livro que ele escreveu. Ficou encantada e sentiu uma imensa vontade de conhecê-lo. Muito do que ali estava escrito eram coisas que ela também pensava e algumas chegavam a parecer que ela mesmo tinha escrito.
Descobriu o endereço dele e decidiu escrever uma carta dizendo tudo que havia sentido e as emoções que aquela leitura havia provocado.
Lá estava ela, escrevendo para um sujeito a quem só podia imaginar pelas palavras, mas que já parecia conhecer há muito mais tempo. Já estava na terceira página da carta, quando achou tudo uma grande bobagem. Ao invés de jogar, guardou na gaveta da escrivaninha.
Um mês depois releu o livro, pegou a carta que havia guardado e completou sete páginas, falando somente das coisas que o livro lhe provocou. Achou de novo tudo uma grande bobagem, mas antes de pensar muito mandou a carta, mesmo sem esperar uma resposta.
Dois meses, depois de muito maldizer o dito escritor, chegou a resposta. Eram também sete páginas, que estavam escritas manualmente com uma tinta azul celeste, a letra era irregular, beirava às vezes a algo primário, mas era segura. A carta agradecia a lembrança e dizia ser a primeira que ele recebia. A reposta tardou porque ele havia mudado de endereço e a carta demorou a chegar em suas mãos.
A carta era poesia pura, apesar de falar de assuntos triviais e até banais, o que ele dizia dela não errou nada e a deixou num instante apaixonadíssima.
Imediatamente começou a escrever outra carta e se pegou empolgada demais e acabou se assustando. Achou que já era suficiente o que tinha escrito e qualquer coisa mais poderia estabelecer um compromisso, e não estava disposta a isso. Escreveu mais de sete páginas e demorou mais um mês para enviar.
Isso aconteceu aproximadamente da mesma forma durante aproximadamente treze anos.
Um dia ela deixou de enviar cartas. Ele escreveu mais três cartas e também deixou de enviar, sem nenhum motivo aparente.