O Guarda-Sol Amarelo

Sentada num banquinho enquanto aguardava o pai que tinha ido não sei onde, ela esperava um ônibus que também não sabia para onde ia.
Era tão magrinha, não de doente, mas de magra mesmo, tão bonitinha com seu arzinho sisudo de quem pensa que sabe algo, e seus olhos posavam no futuro, grandes, interrogativos.
Papai demorava, e isto a incomodava, ele tinha sempre a mania de sair e deixa-la esperando.
Não que estivesse com medo, só incomodada, ele sempre voltava, isto ela sabia.
É engraçado, porquê será que sempre era ela quem saia com papai? Era tão bom.
Ela se sentia especial.
Mas enquanto esperava, ninguém para conversar, nada para fazer, se fixou no seu guarda-sol amarelo. Ele era lindo, de um amarelo quase ouro, com cabo pintadinho de creme. Enquanto pensava, ela acariciava-o, rotacionando as mãos de maneira que no meio das duas ficava justamente o cabo do guarda-sol que deslizando produzia uma sensação tão agradável, que mesmo muito depois, com o passar dos longos anos de sua vida, ela era capaz de quase sentir aquela agradável sensação.
Hoje de manhã ela recebeu a notícia de que ia viajar com papai.
Ficou tão alvoroçada que nem ao menos perguntou onde ia. Tomaram café e pegaram o caminho. Papai ia sempre na frente, ela por mais que tentasse, nunca conseguia acompanhar aquele homem de poucas falas. Ficava sempre correndo para alcança-lo.
As vezes corria e passava na frente, olhava para trás e conferia a dianteira, quando se distraia, lá estava ele no seu encalço, era uma luta, jajá ela ficaria para trás, e assim iam no seu jeito de matutos. Ela, diziam…, não tinha jeito de roça, parecia gente fina, estudava e por isto morava com vovó. Amava papai, se sentia segura, não tinha medo dele, e no entanto, ele era estranho. Quase nunca falava, não era alegre, nem brincava, mas dele emanava algo que aquela rudeza oprimia e que ela conseguia captar em alguns momentos, ou alguns gestos seus, como quando vinham,… ele se encheu, dela correndo atrás para acompanha-lo, e sem palavras a pegou no colo e saiu caminhando.
Ela não gostou muito, já era grande, mas nada falou, se deixou levar, até onde ele achou que estava bom, ou por estar cansado, ou por achar que ela já havia descansado o bastante, a colocou no chão sem palavras, mas com um carinho que ela conseguia sentir.
Por isto não havia perguntado onde ia, nem interessava, só sabia que ia.
Agora parou um pouco e olhou ao redor. Avistou papai que vinha vindo.
Ele lhe deu a mão, e ambos seguiram em direção a um ônibus parado mas já com o motor ligado.
Entraram apressados, sentaram-se, ela olhou pela janela, espreguiçou-se inteira e sentiu aquela sensação gostosa de quem vai viajar, ficar na janela olhando o mar de cafezais passando, rodando, tão bom ……que só depois ficou sabendo, que voltava para a casa da vovó.