Ladrão de Táxi

Como de costume, coloquei um CD de Blues pra tocar, tomei uma caneca de café com leite, comi meio mamão papaia, escovei os dentes, tomei banho, chamei um táxi, peguei o elevador e desci. Era uma ensolarada manhã de novembro e eu ia pra agência de publicidade enfrentar a criação de mais uma inevitável campanha de Natal.
Ao chegar à calçada, vi um táxi vagarosamente descendo a rua. Alguns metros antes, foi interceptado por um homem de meia idade. Ele embarcou mas o táxi, que eu tinha certeza ser o meu, ficou parado. Um pouco depois o homem desembarcou e o táxi veio decidido em minha direção ­ eu que já esperava no meio da rua.
– Qualé teu apartamento?
– Cento e setenta e um ­ disse a senha e pude embarcar. – O bacana quis roubar o meu táxi, é?
– Pois é, ele disse que morava nesse prédio, que tinha me chamado. Aí eu perguntei pra que número ele tinha ligado. Ele disse que era pro zero oitocentos. Então eu disse que o meu era o dois meia dois e mandei descer.
Meu leal taxista havia feito a volta e ao sair da Aristides Athayde Jr. passou de novo pelo safardana. Coloquei o braço pra fora, apontei o polegar pra baixo e gritei.
– E aí, malandrão, melhor sorte da próxima vez! ­ voto retribuído com uma avalanche de impropérios.
O taxista e eu fomos gargalhando por várias quadras, como dois velhos amigos.