A mãe, sentada no sofá, parece procurar alguma coisa nova numas fotos antigas que observa. Júlia, seis anos de idade, chega calada e senta no outro sofá.
_ Que que você tá vendo, mãe?
_ Algumas fotos. Vem ver também…
_ Quem é esse moço?
_ É o seu pai. Olha como ele era bonito…
_ Quem?
_ Seu pai.
_ Mas meu pai não é aquele outro?
_ Pois então…
_ Ah… Mamãe, essa é você?
_ Sou eu, sim.
_ Você tava gorda. Olha sua barriga!
_ É que eu estava grávida de você.
_ Grávida?
_ É. Você estava aí, dentro da minha barriga.
_ Mas mamãe… Por quê?
_ O quê, Júlia?
_ Por que você me engoliu?
_ Eu não te engoli, filha…
_ Mas como eu fui parar aí dentro?
_ Foi assim: o papai colocou uma sementinha dentro da mamãe, a sementinha cresceu, e nasceu você.
_ E como é que o papai colocou a sementinha?
_ Com um beijo.
Passaram três meses.
_ Mãe!
_ Que foi, Júlia?
_ Acho que eu tô grávida.
_ Tá doida, menina?
_ Não! É que o Mateus me deu um beijo.
_ E o que que tem?
_ Você não falou que beijo faz ficar grávida?
_ Ah, é… Mas onde ele te beijou?
_ Na escola.
_ Não… foi no rosto, na mão, na bochecha…
_ Na bochecha.
_ Na bochecha não tem problema. Pode ficar tranqüila, tá?
_ E se fosse na boca?
_ Aí engravida.
_ Mamãe…
_ Que foi?…
_ Quando meu neném nascer, você troca a fralda dele pra mim?