… e como todo homem que se interessa por mim deve ter um defeito, eu rotulei-o de chato.
‘Ele’ era um homem bem apanhado, culto e rica, que eu conhecera através de amigos. ‘Ele’ convidou-me para um concerto de piano e presenteou-me com um livro. Enquanto outras ganham flores e bombons, intelectuais como eu ganham livros. Como não ficar comovida com a gentileza?
Após o concerto, o jantar. A conversa mantinha-se tão impessoal e externa, que o clima romântico desapareceu.
Provavelmente tal clima só existira mesmo em meu coração abóbora, que nunca perde a esperança de tropeçar na fada madrinha, transformar-se e, carruagem e levar-me a um destino maravilhoso.
Pela sobremesa, após atalhos tortuosos, a conversa passara de Beethoven a Paulo Bonfim. Não suportei mais. Pedi cama.
– Leve-me para casa. Quero dormir.
‘Ele’ olhou-me incrédulo, Romeu que vê Julieta despencar do balcão com papelotes nos cabelos e olhos empapuçados.
Sou personagem ignorante dos palcos da vida. Atrapalho o enredo e detono o anti-clímax.
Até hoje, amigos por conveniência, adivinhando o embaraço um do outro, trocamos olhares atrapalhados e arredios.