Conto de Natal

O cortiço antigo do bairro do Brás estava todo alvoroçado, as crianças brincavam alegres e contentes, acabavam de receber a visita do Papai Noel, era início da década de cinqüenta
Baltazar não havia sido convidado, estava na sua domingueira preferida, assistindo o filme de Flash Gordon, uma Odisséia no Espaço, sua preferencia em ficção, no Cine Ideal.
Na saída retornava à casa absolto no imaginário mundo, quando avisado pela vizinha, se pôs a caminhar rápido.
O Papai Noel visitava sua casa. Ao olhar a distancia, reparou o velho de cetim vermelho e branco afastar-se cada vez mais da residência. Iniciou a correr velozmente, em tentativa de chegar a tempo de receber seu presente.
As dificuldades aumentavam, quanto mais corria mais o “Bom Velhinho” se distanciava.
Ofegante e trêmulo chegou, procurando e revirando todo os cômodos onde residia na tentativa em vão de achar seu presente.
Iniciou a chorar, nova sensação de injustiça tomara de assalto seus pensamentos, aumentando cada vez mais quando seus amigos de cortiço mostravam os brinquedos ganhos. O desespero tomou conta do garoto, adoeceu, ficou febril a noite inteira. Não entendia porque não havia ganho presente, acreditava em Papai Noel. Desconhecia que aquele personagem que lá estivera, fora a mando dos vizinhos, compraram presentes aos seus filhos e pediram para a loja entregar com o funcionário à caráter.
No dia seguinte cedo, seu pai que confabulara com a mãe, reuniu os últimos trocados e saiu em busca de seu presente.
Ganhou uma bicicleta de três rodas, a da frente fina, onde o anel de borracha saia do aro de metal a cada dez metros de passeio. Baltazar ficara radiante de alegria, brincava contente, mesmo com as repentinas paradas para recolocar o cinto para a roda tornar a girar.
Com toda a dificuldade a crença no Papai Noel se restabeleceu, ele perdoara seu esquecimento, não soubera que ele estava na matinê do cinema, a alegria retornada contribuiu para o indulto do bom velhinho.
Esse estado de êxtase durou duas semanas, seu Chico Carvoeiro, senhorio da casa de cômodos baixara nova ordem, proibira brinquedos no cortiço, permitindo que a bicicleta ficasse pendurada em cima do tanque do cortiço. Eram as novas regras.
Esse mau velhinho ele não perdoa até hoje.