Assim que o viu, Eva teve certeza que Adão era o homem de sua vida. Não sabia por que, mas considerava coisa do coração, dos sentimentos. Ele era bem educado, tinha a pele fina e um ar galanteador que a atraia. Colecionava diplomas de cursos de línguas no exterior e era filho de Dona Maria, a vizinha. Homem bom, de família e com algum dinheiro. Um gentlemen.
Ela então armou a arapuca: na primeira vez que os deixaram sós mostrou-lhe todas suas qualidades, por meio de um decote. E fingindo casualidade, pediu que ele desabotoasse dois botões de seu vestido. Ele não resistiu e transaram ali mesmo. Caiu em desgraça. Dias depois, e estavam casados, os dois. Com registro no cartório e direito à festa. E a juras de amor eterno. Mútuo.
Mas o amor acabou rápido. Eva dizia que não. Era só o recesso dos primeiros dias de casado, contava às vizinhas. Só foi desconfiar do contrário, quando Adão sumiu de casa com uma de suas amigas e ficou uns 40 dias sem dar notícia. Chegou bêbado e fedido, com a barba por fazer. Ajoelhou-se diante dela e pediu perdão. Perdão, por ter a carne fraca. Mas havia sido ela, a vizinha, que provocara tudo, que incendiava-lhe o libido. Eva ouviu-o, com paciência, e sorriu. Nem precisava que lhe dissesse tudo aquilo. Sempre teve certeza que Adão era o homem de sua vida.
Ele ficou mais um seis meses em casa, sem fazer nada, antes de fugir de novo. Dessa vez, foi embora acompanhado por uma cabeleira. Três meses depois, voltou (de novo) com um pé atrás e a cara-de-pau na frente. Acabara de nascer a primeira filha do casal: Mariazinha. Ele olhou para a esposa e novamente curvou-se, pedindo súplica. Era um completo idiota e sentia-se mal por ter feito o que fez. Ela tinha razão de estar brava. Se não mais o quisesse, não faria escândalo. Mas Mariazinha era linda e poderia servir de elo entre os dois. Eva o interrompeu, beijando-lhe a boca. Foram para cama, e ela até aceitou as bofetadas na cara. Afinal, seu homem estava de volta.
Não demorou muito e ele novamente se foi. Em definitivo, é o que parece. Consigo, levou uns trocados que Eva guardava dentro de um vaso, em cima da estante da sala. Recentemente, escreveu uma carta para ela, com remetente de lugar longe:
“Eva,
Você não presta para nada. Em breve, vou até aí e encho você de porrada. Vou buscar a Mariazinha. Considerou-a minha filha, embora tenha lá minhas dúvidas. Você nunca prestou. Aí de você, se quiser me impedir. ”
Adão”
Eva guardou a carta, com carinho, no envelope e colocou-a numa caixa de sapatos. Diz às amigas que seu homem vai voltar para ela. Afinal, as ofensas são só de brincadeira e no fundo ele está com saudades, pois a ama. Esta certa de que, dessa vez, ele vem para ficar. O seu Adão.