Nunca consegui entender por que razão milhões de bobocas (como a China já possui 1,2 bilhões de habitantes, acho mais apropriado falar em bilhões), onde me incluo, desperdiçam horas e horas de vida útil, e inútil, com o esporte. Mesmo os europeus, com seu modo de vida objetivo, onde uma completa churrascada resume-se a um bife por pessoa, com carne de segunda, sem desperdício, é lógico, lotam estádios, ginásios, arenas, tremulam sua bandeiras ideológicas numa Olimpíada, por exemplo. Lançam mão de um valioso tempo de trabalho, que não volta, para acompanhar uma partida qualquer de qualquer coisa.
Até os norte-americanos, do “fast food”, do “time is money”, da “Objetividade como ritual estratégico” (obra de Gay Tuchman) no jornalismo, perceberam a mecânica da coisa e usam do esporte para impor seu modo de vida (o “american way of life”) – duzentas medalhas de ouro não vêm por acaso, nem ao acaso.
Portanto, não venha me dizer que apenas no Brasil, um país de “quarto mundo”, pai de um povo pra lá de sofrido, uma Copa do Mundo pára o comércio, os hospitais, famílias inteiras, brigas?
Pessoas, gentes mesmo, dessas que você vê andando friamente todos os dias, olhos em riste para o chão, esperneiam, berram, urram, devido ao fracasso de seu time. Mas, na vida, o mundo gira, e esses mesmos frustrados voltam a chorar, mas dessa vez pelo sofrimento da conquista, do triunfo.
Eu mesmo já perdi a conta de quantas vezes chorei num estádio de futebol. Muitas de tristeza, é bem verdade, mas a maior parte delas de alegria. Certa vez, meu time (não que o time seja meu, mas foi o que escolhi pra torcer. Alguns corintianos, de fato, acreditam serem os donos do time, como ficou evidente na briga entre o Edílson e a Gaviões da Fiel) virou uma partida que estava perdendo por 2 a 1 para 4 a 2 e conseguiu, assim, uma vaga na próxima fase da competição. Não aguentei a emoção provocada pela reviravolta e comecei a chorar. Consciente do lapso de bobeira, levantei a cabeça e olhei ao meu redor, meio distante ainda, mas já esperando a represália de alguém, como se chorar fosse “coisa de marica”. Percebo, então, que todos ao meu lado também estão em prantos. Patético, não?
Na teoria, todos os esportes – “todos”, sem exceção – são patéticos. É só analisar de maneira minimalista (alguns nem precisam, como as violentas touradas, na Espanha). Fico imaginando um cara que permaneceu congelado durante séculos e, só agora, está tendo os primeiros contatos com a nova civilização. Acredito que ele chegaria às seguintes conclusões sobre estes esportes:
Futebol – 22 idiotas, 11 pra cada lado, correndo atrás de uma bola, tentando, com o pé, acertá-la num vão, feito por três “bambus”. No meio deles, um sujeito de preto, com um apito na boca, correndo feito uma vaca brava, de um lado para o outro, tentando organizar o rebanho.
Pense agora no basquete: Dez grandalhões, milimetricamente escolhidos pela seleção natural, tentam se locomover, quicando uma bola pesada e alaranjada. Dentro de uma área, chamada “garrafão”(?), há sempre uns dois ou três que se esbofeteiam para tentar pegar o espaço do outro, embora “dois corpos jamais ocupem o mesmo lugar no espaço.” Tudo isso, para ter a chance de lançar a bola dentro de um círculo de ferro, com uma rede em baixo (a função da rede seria simplesmente fazer “chuá?”).
No vôlei a situação é ainda pior. Doze caras, “varas de cutucar estrela”, se atiram no chão para evitar que a gravidade cumpra seu papel e faça a bola chocar-se contra o chão.
E as picuinhas do esporte não se resumem aos coletivos. Nos individuais, os problemas são ainda maiores. No tênis, dois jogadores tentam com um pedaço de madeira (assista a um jogo do Borg), forrado com uma “redinha”, de cordas entrelaçadas no centro, acertar uma bolinha, pequena mesmo, por sobre uma outra rede, até que o adversário não consiga devolve-la. A contagem deste esporte foge aos padrões da lógica: por que depois do zero vem o 15 e, depois do 30, o 40?
Proponho ainda outras questões: qual motivo de se correr tão rápido nos 100m rasos, se ninguém está sendo perseguido? Pra que nadar 1500m? Quem inventou o salto com vara? O triplo? Meu Deus, será que alguém se diverte arremessando peso? Ou o Disco?
Não, não vou criticar o football (pé-bola) que os norte-americanos jogam inexplicavelmente com as mãos, muito menos a pelota basca, o rugbi, o vale-tudo. Já chega. Estou decidido. Continuarei sendo um completo idiota. Mais do que isso, um idiota consciente da própria idiotice. Enquanto estas ladainhas mexerem com tão grande contingente de corações, onde novamente incluo o meu, abrirei mão do raciocínio. Afinal de contas, esta cientificamente provado que a dialética, paixão e razão, não combinam. Exceto na rima.