Nesta quinzena quero fazer uma curta homenagem a alguém que ainda não existe, ou melhor, existe, mas ainda está envelopada numa barrigona. Ou seja, explicando melhor ainda: está pra nascer.
É a Júlia.
Ela está na bica pra pôr o pé no mundo, bem nos dias de. Vem daqui a pouco, não disse bem quando, mas é por agora, pra já, ou pra depois de amanhã, não foi precisa na data e tampouco na hora que desembarcará.
A Júlia é assim, imprecisa, meio espantada, inquieta e curiosa.
A mãe espera paciente, a avó nem tanto. Até parece que é ela quem vai se desincumbir da parição da neta. Tanto que até já andou sonhando com isso.
Ela, a Júlia, virá de repente, surpreenderá a todo mundo, mesmo sendo esperada. É certo, no entanto, que será de madrugada. Que ela não viria assim calminha, no expediente comercial, burocrático.
Chegará como chega um novo tempo, uma nova estação, na virada da lua, no raiar do dia.
Vai vir a um mundo meio agitado, complicado, como sempre foi o mundo, meio incerto. Isso sempre foi assim, quando alguém chega sempre dizem isso. Há quem diga que antes foi melhor. Nada disso, melhor é agora, um mundo novo, recente, mudando a cada segundo. Este mundo precisa de gente nova, esperta, impaciente, inconformada.
Esta nova espécie, da qual já tivemos alguns raros exemplos, é que muda as coisas neste nosso planeta.
Já estou vendo Júlia revolucionando. Dormirá à tarde, como toda criança, e acordará de madrugada com fome, chiando, exigindo presença de mãe, avó, avô, tios, primos, a família inteira.
A rotina da casa ruirá diante da inquietude de Júlia. A avó irá pro trabalho sem dormir, como se a mãe fosse ela. Justificará orgulhosa o acentuado da olheira: “Foi Júlia, não dormiu a noite inteira”.
Estão estranhando o quê? A avó indo pro trabalho? Explico também: a avó é nova, não é uma avó convencional, é nova, ativa, inteligente, uma avó modernosa. Nada de avó de cabelinho branco, vozinha sumida, avozinha convencional. Nada disso, é uma avó da nova safra de avós, avó de encomenda pro novo milênio.
Mas continua sendo uma avó, contadeira de histórias, cantadeira de músicas, no fundo uma avó.
Feliz a avó que terá Júlia, feliz Júlia que terá essa avó. Feliz a mãe, o pai, o avô, os tios, que terão mais um motivo para acreditar em tudo, na renovação, na continuidade da vida, renascidos todos com a chegada de Júlia.
Todos ansiosos, nessa boa espera, na expectativa saudável de vê-la, tocá-la e embalá-nos braços.
Pra quem não sabe, Júlia é a neta de Esther.
Seja bem-vinda ao seu e nosso mundo, Júlia!