Deixem eu meter meu bedelho neste papo dos 500 anos. E não me chamem de intrometido. Tenho razões de sobra para entrar nessa conversa. Por quê? Porque nasci no Ceará.
Dirá alguém que ser cearense – que aqui dou tanta ênfase – , pouco tem a ver com o descobrimento, ou o “achamento” do Brasil. Não é o caso, por exemplo, de quem é da Bahia: “Aqui nasceu o Brasil”, é o que os baianos, triunfantes, ufanos, garantem.
Mas, para os cabeças-chatas, a história é outra: o Brasil nasceu no Ceará, e não na Bahia. Louvam-se no que dizem alguns historiadores, que, infelizmente, não deram a esse fato o merecido destaque.
O primeiro a pisar em terras do Brasil não foi Pedro Alvares Cabral, mas o espanhol Vicente Yañez Pinzón: é o que se lê em alguns livros que também contam a história do descobrimento deste contraditório país.
Quando aconteceu? No dia 26 de janeiro de 1500, Pinzón desembarcou nas terras dos Potiguar, mais precisamente no Mucuripe, a 10 km de Fortaleza. Chamou o local de cabo de Santa Maria de la Concepción, e tomou posse “daquele território em nome da Coroa de Castela”. Pinzón teria também visitado, depois de Mucuripe, a exuberante Jericoacoara, talvez a mais bela praia do litoral cearense. Tão linda que o espanhol, encantado com o que via, não hesitou em chamá-la de “Rostro Hermoso”.
Por tudo isso, tenho ou não tenho razões para desconfiar da certidão de nascimento deste idolatrado Brasil?
Não é ciúme… Juro por Deus…
Quando os portugueses aqui chegaram, cá encontraram nossos queridos índios. Acharam pouco. Trouxeram os negros, e, criminosamente, os colocaram em senzalas. Pois bem. Se ao Ceará não se der o título de berço do Brasil, não há como negar-lhe o diploma de berço da Liberdade. A história registra, que antes da Lei Áurea entrar em vigor, os cearenses já haviam libertado seus escravos. Quando o 13 de maio chegou, os negros do Ceará já andavam sem algemas. Obrigado ao Zé do Patrocínio que, generoso e reconhecido, chamou o Ceará de “Terra da Luz”.
Ainda envolto no clima do “Descobrimento”, só uma palavrinha sobre o nosso Pedro Alvares Cabral. Li, recentemente, que o intrépido descobridor “nunca entendeu a grandeza do seu feito”! O escritor gaúcho Eloy Terra, no seu livro “Crônicas pitorescas da História do Brasil”, afirma que Cabral descobriu o Brasil, comunicou o feito a Lisboa, e se mandou para as Indias. E ainda ressalta que o navegador jamais voltou á Terra de Santa Cruz. Ingratidão? Não se sabe.
Pedro Alvares Cabral abandonou o mar, e virou fazendeiro. Morreu 29 anos depois de ter andado pelas terras encantadoras dos Tupiniquim. Tinha 62 anos. Seus restos mortais? Estão, segundo ouvir dizer, divididos entre a sacristia do Convento das Graças, na lusitana Santarém, e a catedral do Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro? Por que não na Bahia? Tá na hora de se pensar nisso.