( Parte I)
Olavo e Olivia.
Sabe como são os adolescentes. Escreviam os seus nomes com sabonete no espelho do banheiro.
Olivia e Olavo se conheceram numa situação propicia, suas famílias habitaram a mesma casa naquele verão do fim dos anos 70.
Eram os pais amigos de trabalho e inventaram naquele verão de juntarem as famílias naquelas férias para curtirem-se e encurtarem as despesas.
Olivia viu Olavo. Olavo viu Olivia.
E depois de olhares trocados durante uma sessão de TV na sala e no almoço na cozinha azulejada…longos suspiros. Os dois se encontraram no terraço e trocaram um longo beijo. Ninguém os viu e ninguém os veria, isto é certo.
Por quinze dias viveram paralelamente à atividade verânica familiar o mais lírico e lúdico romance daquele verão.
Olivia era linda e Olavo, forte, belo e cabeludo. O vento sempre jogava o cabelo de um na cara do outro, e assim se entrelaçavam, lançavam-se no braços e nos abraços sem fim.
Eram de sorrisos e longas confidenciais aquele amor.
Naquele ano Olivia iria para uma escola em São Paulo e Olavo para uma em Jaboticabal . Trocaram endereços e por meio ano cartas e mais cartas.
Depois vieram mais dois encontros em São Paulo, num domingo. Encontros secretos.
Tudo era secreto, não podiam se declarar as famílias. Encontros secretos e cartas secretas. Os pais deles eram é um tanto rigorosos àquele tempos com o menino em voltas das aspirações para uma faculdade. Longe das meninas!! Mas a família de Olivia era rigorosíssima, não podia haver sombra na vida dela que fosse de um homem. O pai já levantava a voz e franzia as sobrancelhas. A mãe virava os olhos, suspirava. Ai meu Deus! Ainda é cedo!!
Pois bastaram dois encontros para os dois decidirem viajar. Melhor, fugir. Os olhos deles brilhavam. Iriam fugir em julho para a Bahia. Tudo estava combinado.
Olavo sonhava, juntava grana, ouviu falar de um paraíso : Trancoso. Olivia levitava e segurava os dedos de Olavo.
Uma semana antes do combinado; Olavo foi visitar a família. Uma despedida ele pensou.
Comida da mãe, o bom papo do pai, o cachorro na sala, os irmãos. Para ele tudo seria uma questão de tempo. Fugir com Olivia seria a forma de se unirem se libertando da família, mas depois de uns meses ele bem sabia que haveria uma
reconciliação.
Na noite daquele sábado o telefone tocou. A mãe de Olavo atendeu e depois a mão na boca. O que houve? Ficara com a expressão triste, dizia coisas, parecia que consolava alguém. Um nome faiscou em brasa no ouvido de Olavo: Olivia.
Ergueu-se como um cão vigilante. Tentava ouvir mas tinha que disfarçar o interesse diante da família. Foi para mais perto, entrou na cozinha onde ficava o telefone, de repente deu sede, o velho pretexto.
Por fim a mãe desligou o telefone, e vindo a sala falou:
– Vocês não vão acreditar! Olivia a filha dos Santos fugiu!!!
– Fugiu?- falaram em coro na sala.
-Sim!! Vejam só!! Fugiu com um hippie que vendia artesanato na Praça da Republica!!!
Olavo ao ouvir aquilo nem soube bem por onde enfiava as mãos. Mas soube disfarçar a tensão e cinco minutos depois de todos fazerem seus comentários e voltarem a ver TV ele subiu para o seu quarto.
Olavo não morreu porque era muito jovem, mas muito da poesia do jovem morreu naquela hora para os próximos dias.
Resumindo a história: Olavo descobriu que Olivia além dele também tinha um Ivan.
E no dia em que a estrada abriu-se em duas Olivia foi-se com o Ivan e deixou Olavo olhando o meio fio da rua da partida, sem tchau, sem nem um obrigado, sem luar nem sertão, e sem desespero : apenas o peso abafado da perda.
Já bastara para tirar algumas noites de sono na vida dele.
Bem os anos se passaram, e como passam. Passam sempre sem que se deseje.
Passam e apagam algumas marcas, se bem que outras se não fazem isto emolduram maciçamente dando sempre um formato forte e duradoura na alma dos seres.
O fato é que um dia Olavo chegou aos 40 sonhando e solitário, solteiro e homem formado. E desde os 16 não sabia de Olivia., nem ouvira mais nada dela e supostamente, bem ele pensava, que a havia esquecido.
Sim, era o que ele mesmo podia acreditar até o momento que quando se preparava para recepcionar seus nobres alunos na faculdade onde lecionava que Olivia, sim era ela!! Entrara na sala no meio daquele grupo de caras novas.. E ele entre louco e atordoado, dando um passo para trás, se perguntava: Como! Ela não envelheceu?!!
( CONTINUA NA PROXIMA NAVE!)