Gente! Enfim um espaço. Um canto. Onde poderemos dizer alguma coisa sem outro objetivo que não divulgar um pouco de conhecimento. Claro, não vai ser fácil, porque quem garante que há interesse em aprender alguma coisa além dos segredos do computador, de como utilizar o caixa- automático, de como usar ao máximo as deduções do Imposto de Renda?
Contudo, se ainda nos sobra o canto da boca para rosnar algum impropério, vamos fazer uso disso, vamos gritar para quem quiser ouvir, vamos contar, cronicar, poemar e tudo mais a que , por acaso, tenhamos direito. De quebra, e para sustento do resto, daremos informações de interesse geral. Não tão geral, é verdade, porque nos preocuparemos primordialmente com os estudantes, os candidatos ao vestibular, estes que, depois de anos e anos de escola, se vêem na iminência de não ser nada na vida, a menos que passem no teste que lhes permitirá a escolha da tão almejada profissão.
Não faremos deste local uma tribuna para clamar contra a situação, mas não nos furtaremos a tratar dos assuntos que afligem a maioria do povo. Isso faremos, seja na forma de poemas, de contos ou de crônicas. Algumas certamente estarão recheadas da ira santa dos oprimidos, do rugido dos incorformados. Evitaremos somente, por uma questão de princípios o emprego demasiado dos lugares-comuns.
Por exemplo: não falaremos de CPIs, a menos que estejam inseridas no contexto de algum trabalho de considerável valor; não perderemos o nosso tempo bradando contra a corrupção, porque ela é um hábito já por demais arraigado na nossa “cultura” e, antes de nos insurgirmos contra ela, devemos fazer um ato de contrição, para verificar se não a alimentamos, ainda que indiretamente. O lema “ou se restaura a moralidade, ou locupletemo-nos todos”, dito por algum político do qual não guardamos sequer o nome, é uma ameaça aos que, insidiosamente, sustentam o vício da propina, porém não assumem a sua parcela de responsabilidade na questão, como se o assunto não fosse com eles.
Não gastaremos massa cinzenta fazendo campanhas contra o consumo de drogas, porque o uso delas é permitido tácita e hipocritamente pelas autoridades e pela população em geral, tanto que elas são adquiridas em qualquer esquina. E assim com vários outros problemas, que somente serão abordados caso constem de algum texto que valha de fato a pena ser lido.
Outro dia, lendo uma crônica de um amigo que, aliás, está publicada aqui nos demos conta da repetição de tudo, das coisas que são exaustivamente refeitas do mesmo modo, cantadas no mesmo tom, desde tempos imemoriais, como as as liturgias sagradas, as fórmulas dos discursos políticos, coisas que no fundo não significam mais nada. Mas, nem por isso deixam de ser praticadas com o denodo típico dos ignorantes. Porque ignorante é pertinaz, desconhece empecilhos, é refratário a tudo o que se possa imaginar de inovação na forma e no jeito de pensar e agir.
Ao relermos Marquerite Yourcenar, que levou vinte e sete anos pesquisando e deu à luz “Memórias de Adriano”, vemos que nada, ou muito pouco, mudou desde as épocas da Civilização Romana, que exibia ao mundo a devassidão, a amoralidade, os mesmos interesses baixos, a mesma burocracia, as mesmas promessas de sempre, enfim o perfil comum do ser humano, que se vê hoje, como visto antes.
Depois disso, só nos cabe admitir, que é inevitável a necessidade de “desaprender”. E isso é o que pretendemos fazer. Entretanto, usaremos, sim, todo o arsenal de conhecimento tecnológico hoje disponível, usaremos tudo o que possa facilitar nossa tarefa.
Mas privilegiaremos o uso do cérebro, do coração e da alma, para que a Nave da Palavra decole carregada de sonhos e de esperança de mudanças neste cenário ainda devastado pela falta de vontade de “desaprender”. Isso porque o que até aqui aprendemos, nos trouxe aonde estamos, e isso seguramente não nos satisfaz.
Precisamos ir além.
E vamos.