Um Menino No Ônibus

Caros amigos(as) leitores(as), leiam esta crônica com atenção e com certeza irão observar que: ônibus circular tem geralmente a porta de entrada, a da frente. E neste texto fiz questão de referir a um ônibus circular com a porta de trás para entrada. Não estranhem, antigamente era assim. Aliás, ainda é em algumas cidades interioranas.
Há certos momentos na vida, que nos ficam gravados na memória e não se apagam com o passar do tempo. Como a imagem daquele menino no ônibus…
Eu estava num ônibus circular da cidade, via bairros, que seguia para Zona Leste; sentado bem atrás e lendo um jornal que noticiava o falecimento do Presidente da República, que eleito mas não chegou a tomar posse: o Sr. Tancredo Neves. Mesmo interessado pela manchete do jornal, tive a atenção desviada para um garotinho negro aparentando 9 ou 10 anos de idade, que acabava de embarcar. Era um garotinho negro, franzino, trajado com uma calça azul bem desbotada, meio desfiada e uma pequena blusa de lã muito rala, curta, com mangas que só chegavam aos cotovelos. O dia estava bem frio: 10 a 12ºC, não mais que isso. Ele carregava uma bolsa descomunal – grande, de pano grosso, descorado e gasto; pude observar através de uma parte descosturada, que trazia um caderno e um livro muito usados. Com certeza, voltava da escola. (Naquele dia 22 de abril de 1985 não houve aulas, devido ao país estar em luto). Talvez por falta de informação, ele houvesse ido até à escola e já estivesse retornando pra casa. Foi o que deduzi.
Ao chegar à roleta, o garotinho pediu ao cobrador para deixá-lo passar sob ela, a fim de não pagar a passagem. O cobrador com semblante fechado, negou o pedido, dizendo que se o deixasse passar, ele criaria o hábito de não pagar passagem, e que iria sempre importuná-lo querendo passar de graça. O menino tornou a pedir, dizendo que seria pela última vez; mas o cobrador manteve a negativa. Eu já estava quase a ponto de pagar a passagem do pobre menino, quando finalmente o cobrador lhe disse que passasse, mas não voltasse mais, senão o poria para fora do ônibus. Naquele momento, senti uma alegria que me deu vontade de agradecer ao cobrador; talvez, ele (cobrador) também no íntimo quisesse ajudar o menino. Mas sua profissão impunha-lhe a cobrança de todos, com raras exceções. O garotinho agora feliz, atravessou o ônibus e foi sentar-se bem na frente numa poltrona solitária como ele. E ficou ali retesado, esticando o magro corpinho para observar o trânsito à sua frente, como se fosse ele o motorista do coletivo, ou talvez o dono das ruas, vendo tudo a dar-lhe passagem. Mas dali a pouco ele pôs-se de pé. Notei que seu negro rostinho voltara àquela triste expressão desolada de antes. Ergueu bem o braço para alcançar o cordão de alarme. Então era isso: ele voltara à dura realidade de sua vidinha. No ponto, saltou do coletivo e saiu carregando a grande bolsa rota. Foi subindo um morro, chutando pedras do caminho, até que o movimento do ônibus o tirou do meu campo de visão. Voltei à leitura do jornal. Mas através das manchetes continuei vendo a figura do menino pobre – estudante, que amanhã, suponho terá que repetir a mesma cena humilhante que vi, talvez duas ou mais vezes. Porque nossa vida, nada mais é do que um passar de dias contínuos; uns alegres, outros abatidos e às vezes humilhantes. Mas tudo são circunstâncias que a vida nos oferece. A esperança é: que um dia tudo isso findará. E distanciar-se-ão os dias de sofrimentos, de humilhações, e nós descansaremos por toda a eternidade. E, ” os que foram fiéis a Deus, ficarão guardados nas memórias eternas do Senhor.”
O mundo é uma grande escola, pra nos ensinar a viver. Mas acreditem ! há momentos na vida da gente, que o silêncio é mais torturador que qualquer palavra áspera.
Meus amigos(as) caros leitores(as), criem o hábito de ler meus comentários e corrijam onde for necessário.
Até a próxima! com a permissão de Deus.