Primeiro Caderno

Domingo, único dia sem o despertador. Acordou. Lá fora, o sol convidando para uma praia. Espreguiçou-se, tomou coragem e, de um salto, levantou. Na praia, encontraria os amigos para a partida de vôlei: o time que perdesse pagaria o chope. Depois da feijoada de almoço, uma boa soneca e, às oito, Beleza americana com a esposa.
Belo se afigurava o mundo naquela plácida manhã, sem relógio nem obrigações. Desceu à rua rapidinho pra comprar bisnaga e jornal fresquinhos. Depois, acomodou-se em poltrona da sala, esperando a esposa acordar. Cruzou as pernas e apanhou a Revista de Domingo – ler o primeiro caderno pra quê, se só traz politicagem, crime e corrupção? Folheou por alto as matérias. Em momento de inspiração, Deus criara a praia; pena que o progresso tudo polui. A praia e a fissão nuclear, os passarinhos e a era tecnológica, as árvores e o efeito estufa, a lua e a cibernética, o sol e os buracos no escudo de ozônio… De repente, decidiu: “Esperar a esposa que nada! Vou-me embora pra praia!”
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Tivesse se dado ao trabalho de folhear o primeiro caderno do jornal, teria lido:
“Rompimento do emissário provoca desastre ecológico. Praias do Rio interditadas.”