A palavra caipira costuma ser associada a um sujeito bonachão, de pés no chão, cigarro de palha no canto da boca, fala errada e chapéu na cabeça. Mas será mesmo esse o caipira? Parece que não…
Ser caipira, em nossos dias, é se conformar com a situação, é suportar o insuportável e ainda agradecer por estar vivo.
Quando se fala em Brasil pelo mundo, as primeiras referências que se notam são sempre: mulher, carnaval, futebol, corrupção e subdesenvolvimento. E subdesenvolvimento quer dizer pobreza. E pobreza quer dizer gente.
GENTE, que haveria de ser escrita assim, em maiúsculas. Monteiro Lobato, o pai do grande Jeca, dizia que “um país se faz com homens e com livros”. Homem é gente. Gente que procura, que pensa, que quer, que aprende, que vê, que luta, que sabe, que sente, que vive. Mas, sobretudo, GENTE, sem classificação.
O problema é mesmo esse: classificar. O que segue o padrão é social, o que não segue é marginal. E então, o desempregado, o desprovido de meios garantidores de um padrão financeiro satisfatório para as exigências apregoadas, o isento de posses, é tido como a escória, como aquilo que não tem serventia e que, portanto, não merece atenção de qualquer espécie. Infelizmente, a cultura do “ter” fala mais alto que a do “ser”. Isso é ser caipira.
E vem que daí, num dia de sol, um candidato apanha uma criança nos braços e, de dedo em riste, promete que tudo vai mudar. E sorri mostrando os alvos dentes. E garante dentaduras e consultas e remédios. Só durante a campanha, que depois não há mais tempo para isso. E então restará somente o porta-retrato comprado em loja de R$1,99 com a fotografia do filho e “do presidente, prefeito ou deputado, meu Deus!”
Ou então, inventar-se-á uma tal de multa para quem gastar mais energia e um tal de imposto contra a pobreza, como se isso bastasse para eliminar o câncer. Pena que ainda impere o ditado de que “um povo emburrecido é muito mais fácil de governar”: ou a CPI não acabou em pizza “baiana com tempero especial de arruda”? Então, mais apropriado seria dizer: “um povo emburrecido é muito mais fácil de ENGABELAR”.
… e continuarão, por aí pelo mundo, a escrever “Brazil”, com Z. Isso sim é ser caipira.