Por Um Fio

Fantasmas no armário… quem não conhece tal expressão? Fantasmas no armário, na sala, perdidos pela casa e pelas ruas; enquanto faço a feira, lá estão, fantasmas. Também enquanto cuido da limpeza, da certeza, da fúria… fantasmas. Nos sonhos e na realidade, na maneira copiosa daquele homem caminhar sem pisar nos desenhos da calçada. Também no riso da amante que tenta transformar prazer em cotidiano. Fantasmas na palavra que ecoa nos meus ouvidos, ainda que sussurro faça bem em noite vazia… fantasmas.
O fantasma da procura aguçada, do encontro desprevenido… nem todos sabem a hora exata de optar pela felicidade, afinal, trata-se da luxúria da vida. Veja bem… nem chove hoje, o sol derretendo a maquiagem na cara da garota embevecida com a possibilidade de amar qualquer um daqueles que caminham a sua frente; enquanto sentada, mãos no peito, flerta com o medo de nunca ser a escolhida. Fantasmas na alma também, por que lá não estariam? Daqui a pouco se encontrará com uma lata de refrigerante e tentará acalmar o calor provocado pelo dia quente e pela espera doída. Talvez cantarole algo para distrair o tempo e ainda chegue a pensar naquela mulher que está perdida no corpo de algum homem… a materialização do desejo que é dela, da menina de maquiagem escorrida. E mesmo sentindo-se triste, continuará a esperar, ainda que as estrelas também tragam o vento frio, a solidão.
Sou eu que me resguardo da magia que não vinga. Meus fantasmas dançam como se tivessem feito curso lá na Rússia. Clássicos e intraduzíveis. Expressão dura, beleza vinda de uma fonte que não se esgota, ainda que amargue vez ou outra. Abraçar travesseiro já não funciona; esconder-me debaixo da mesa como quando fazia ao ser interrogada pelo meu pai, também não. Perdi o domínio sobre meus fantasmas. Agora são eles que me despem das máscaras.
Sentam-se ao meu lado, conduzem minha mão: cartas. Sentam-se ao meu lado, conduzem minha fé: dúvida. Deitam-se ao meu lado, conduzem meu medo: escuro. O olhar afoito que se perde pela noite é meu. E os fantasmas escondem no armário do futuro a minha possibilidade de mudança. Será que a garota da maquiagem borrada irá suportar a espera ou se lançará para fora do abismo? Mistérios, sempre são eles a desvendarem o destino.