Vamos Inventar O Horário De Inverno

Muitos de vocês devem conhecer um dos estados mais interessantes da consciência humana que ocorre quando acordamos pela manhã, e que é aquele estágio entre o dormir e o despertar; quando ficamos numa outra dimensão, parecendo uma TV ligada, porém fora do ar. Pois é, normalmente tenho ficado assim pelas últimas manhãs, agora que o inverno começou a dar suas caras. É feito um zumbi que saio da cama, e assim fico, até aparecer na minha frente uma xícara de café quente e bastante enfumaçada. Já nos primeiros goles, todos os meus pensamentos sobressaltam, é como se tivesse uma corneta tocando no meu ouvido, ou alguém tivesse botado ao meu lado, no último volume, uma música do Aerosmith.
Bom dia velho mundo! “Let’s ride again!” Que frrrrio!!!
Ai, entro no banheiro e nem ouso me cumprimentar pelo espelho. O azulejo colabora para que todo o ambiente se torne mais gélido, arrepiante. O chuveiro parece um aparelho de tortura medieval. Banho !!! Neste frio !!! Brrrrrrrr!!!!!
Neste época do ano sempre me pergunto, porque ainda não se pensou num Horário de Inverno. Uma vez que já existe o Horário de Verão, nada mais justo que algo fosse feito por nós no inverno, não pela economia de energia elétrica como no verão, mas pela, da energia humana.
Já que não somos ursos, que sabiamente nesta época do ano encerram o expediente, fecham para balanço e hibernam; deveríamos criar este paliativo para obviamente desfrutar melhor o conforto inegável que a cama e o cobertor nos oferece nesta época glacial do ano, principalmente nas manhãzinhas encobertas de névoa, névoa esta que desce a serra, plaina pelas várzeas, e invade as áreas mais planas da cidade.
Evitaríamos, com certeza, o constrangimento de sair de casa feito zumbis, ou se não, depararmo-nos com outros, como tais, que perambulam pela cidade ainda envoltos neste interessante estado de consciência em que algo de desastroso pode acontecer sem a ciência do sujeito, como entrar numa contramão, dormir no ônibus e perder o ponto, deixar panelas no fogo, ficar olhando as paredes durante o serviço, etc.
Chega a ser macabro ser ou exigir que alguém seja pontual numa manhã de inverno.
Já desanimados nesta época inglória que vivemos, nas manhãs de inverno nos tornamos piores, entramos numa categoria de semi – animados. Há, ainda o perigo de que para alguns o café não tenha mais o poder estimulante, do efeito de buzina de jamanta que pode nos acordar e empurrar para a vida, e aí, as coisas não andam.
Portanto, fica aqui a minha sugestão: adiantemos todos, de comum acordo, os relógios em pelo menos duas horas no próximo sábado. Segunda-feira serão 9:00 h. para o mundo, no Vale , 7:00 h. Quando for meia noite em Brasília, aqui em nossa região serão 22:00 h. O Jô Onze e Meia estará passando e não teremos um pingo de sono para assisti-lo. Pode-se ainda alugar uma fita de vídeo. Pode-se acordar com um sol mais razoável nos aguardando lá fora.
O importante é que após estas medidas, estaremos todos animados pela manhã, saindo de casa já com o céu limpo sem aquela névoa que nos lambe e nos faz sentirmos um verdadeiro picolé. Sem aquela fumaça que o frio faz sair da nossa boca dando-nos a impressão de que todos são fumantes. Ficaremos, decerto, com bastante disposição para enfrentar esta vida que na verdade foi feita para nos dar prazer e alegria, e no entanto não nos dá.