Sou uma operária bóia-fria . Trabalho com palavras. Afinal,, o que são palavras senão signos ? A palavra está distante da coisa. Muito distante de qualquer coisa. É tão comum faltar palavras. Quem escreve sabe disso…quem ama também . Os cientistas – coitados! – estão compreendendo isso agora . A palavra persegue a coisa e caso a atinja de raspão , como resultado da colisão: a palavra morre, a coisa transforma e nasce a idéia. Idéia voa , não pára quieta. Idéia é sempre criança . Palavra é velha.
Deus fez o mundo no silencio. O homem criou o barulho. A palavra foi o acordo entre ambas as partes : orações coordenadas. Porém o homem sabido , pensando trapacear , vestiu e subordinou a palavra. Transfigurada e escrava, a palavra afastou-se da Palavra . Há figuras de linguagem…figuras de sintaxe – personas, máscaras… A palavra permaneceu…interpretações variadas. Quantos papéis!
Há fatos curiosos com palavras, querem ver? Não há palavras gêmeas, apenas compostas ou sinônimos. Caso alguém pudesse bater uma fotografia da palavra, no filme do seu negativo encontraria o antônimo. A pretensão da palavra é tão grande que em qualquer dicionário existe “universo”… Há anti – palavra, contra – palavra, mas não há sobre – palavra.
Sou uma artesã de palavras. Se você trinca a palavra ela vira número; se a lixa ela é círculo; se a quebra , termina ponto; se a fura, fica nota musical. Palavra é embriâo velho nunca começa e nunca termina . Nunca está pronta e nunca é definitiva. Sem chances para aborto ou para eutanásia.
Portanto, para mim – simples trabalhadora de palavras- resta-me apenas aguardar a preciosa, legítima e definitiva Última Palavra. A palavra não inventada, não adivinhada e não perscrutada.