Os Melhores?

Quem nunca ouviu a frase: “O Brasil é o país do futebol, nenhuma outra seleção tem tantos craques quanto a nossa, temos, portanto, a obrigação de vencer toda e qualquer competição, afinal os melhores sempre vencem”?
Depois de anos convivendo e aceitando (por vezes até defendendo) a afirmação acima, resolvi, após a já famigerada derrota para Camarões, questionar-me se ela é realmente válida ou se é apenas fruto de um passado, um tanto quanto remoto, de glórias futebolísticas nacionais.
O primeiro evento mundial de futebol a que assisti foi a Copa de 86, no México, o Brasil mais uma vez era a seleção favorita, iria apenas corrigir uma injustiça de 4 anos atrás, Zico, Sócrates e companhia não poderiam encerrar a carreira sem um título mundial, eram os melhores do mundo… Quartas-de-final, derrota para a França nos pênaltis, os deuses do futebol mais uma vez castigavam a seleção.
Após uma frustrante medalha de prata em Seul, perdendo para a URSS, chegamos a mais uma Copa, a da Itália, em 90, não íamos muito bem, é verdade, mas a culpa era de Lazaronni, se ele perdesse a soberba e montasse o time direito, nosso único adversário seria a Itália, por jogar em casa. Derrota para a Argentina de Caniggia e Maradona nas oitavas, Lazaronni era mesmo um incompetente.
Olimpíadas de Barcelona? Ahn, a seleção olímpica não se classificou. Puro descuido. Como explicar de outra forma o fato de não conseguirmos ganhar sequer da Venezuela no Pré-Olímpico? Mas no mesmo 1992 o Brasil mais uma vez confirmava sua superioridade no futebol, o São Paulo era campeão mundial.
Por que não ganhávamos desde 83? Simples, as equipes brasileiras não se preocupavam com a Libertadores, a partir de agora venceríamos todas. Veio 93 e a confirmação: São Paulo bi.
Copa de 94. Brasil tetracampeão! Só não ganhamos fácil porque o Parreira armou um time muito defensivo, poderíamos ter dado show, como em 70. Agora era esperar as Olimpíadas, com uma boa preparação seríamos invencíveis, jogaríamos apenas para confirmar o ouro.
Nigéria? Kanu? Quem eram?… Bronze, que vergonha!
Melhor recebê-lo ali na hora mesmo, passar a vergonha de subir no terceiro degrau do pódium e ouvir os carrascos argentinos cantando seu hino nacional com o ouro no peito? Nunca!
França, 98, “todo mundo tenta, mas só o Brasil pode ser penta”. E seria com certeza, apesar do Zagallo já estar superado, a ginga do brasileiro mais uma vez mostraria aos europeus como é que se joga futebol. Chega a final, como era de se esperar a seleção lá estava, faltavam apenas 90 minutos, ou, como gostava de dizer nosso técnico, só faltava um. França 3 x 0 Brasil, maldito Ronaldinho.
Era Luxemburgo. Agora sim, não teria pra ninguém, o melhor técnico unido aos melhores jogadores, show de bola! Coitados dos adversários… O primeiro objetivo era o ouro. Objetivo? Não, certeza. O único sparring melhorzinho, a Argentina, já tinha ficado no Pré-Olímpico…
Os mundiais interclubes? Não ganhamos mais nenhum desde 93. Puro azar. Copas América? Somos os atuais bi-campeões, o que importa os outros terem jogado com times reserva? Ganharíamos de qualquer jeito, somos os melhores…
Após essa recapitulação “absolutamente jornalística”, lanço a pergunta: Até quando teremos que perder, quantas “maiores derrotas da história” teremos que sofrer, para enxergarmos e assumirmos que não somos os melhores do mundo? Será que não é muita coincidência o fato de desde 70 só termos vencido uma grande competição mundial? Será que somos tão azarados assim? Será que as outras seleções só jogam bem contra o Brasil?…
Tivemos uma grande geração de jogadores que dominou o futebol mundial durante quase 20 anos, período em que ganhamos 3 Copas, éramos os melhores. Hoje já não o somos mais. Por que insistimos em afirmar o contrário? Para sofrer grandes decepções de 2 em 2 anos? Desde a primeira rodada da Copa de 98, a França foi a melhor seleção, só quem não enxergou a competição pode discordar disso. Perdemos algumas competições jogando bem, assim como Hungria, Holanda, Romênia, Dinamarca e Camarões também perderam. São Paulo e Santos já tiveram grandes times, assim como Real Madrid, Milan, Independiente.
Não estou com isso querendo dizer que não sabemos jogar futebol ou coisa parecida, apenas que não somos os melhores, estamos entre eles, mas não somos eles. Podemos ganhar competições importantes, assim como pelo menos outros 6 países também podem.
Bolívia, Japão, Nigéria, Noruega, França, Paraguai, Chile, África do Sul, Camarões. Alguém acha que parou por aí? Que trocaremos de técnico e nunca mais teremos derrotas “inesperadas, inexplicáveis, vergonhosas…?”
Já é hora de passar a enxergar nossos rivais comoverdadeiros adversários, não só na retórica, mas também na prática.