Entendendo o amor através da ciência
Se alguém conhece uma coisa mais misteriosa do que o amor, que atire a primeira pedra. Por mais estudos e manuais de como ser feliz que existam, é incompreensível se saber porque gostamos desta pessoa e não daquela outra, isso quando uma terceira não acaba gostando da primeira, que se vê perdidamente apaixonada pela segunda, que por sua vez não a corresponde, pois esta gosta mesmo é do Luiz Alberto, que não tinha entrado na história, parecendo a quadrilha do Drummond. O mais instigante são as diferentes manifestações do amor. A mais clássica é o tipo platônico. Aliás, o melhor. Ninguém se fere, ninguém se arrisca, ninguém fica sabendo de nada. Ou fica, mas se finge de besta. Ou de tímido. Ou nem finge, porque é besta mesmo. Ou tímido. O amante platônico põe um abismo entre ele e o ser amado. Como não quer se estatelar no fim de tudo, prefere uma distância segura e sem riscos.
Outras vezes, é um amor imediato, rápido, fugaz, violento – o famoso à primeira vista. Ele vale mais pela praticidade instântanea, numa supervalorização do carpe diem afetivo. Não se precisa de muito diálogo. Um sorriso, um gesto, um olhar, uma mecha de cabelo. Um sinal, enfim. Não é desses do coração ficar apressadinho, mas de uma ansiedade e de uma tremedeira nas pernas – além das mãos que, se pensassem, saberiam que estão dando na cara. Um amigo me contou que aconteceu com ele. Certa vez, ele estava na seção de poesia numa dessas livrarias megastore, quando uma loirinha graciosa, ao lado, começou a observá-lo de rabo de olho. Viu que ele estava folheando Murilo Mendes. Murilo Mendes !! Alguém, em plena era Lair Ribeiro, lendo Murilo Mendes. Era demais. Quando ele declamou “Metade-Pássaro” de cabeça pra ela, foi o êxtase. Arrebatador, eis tudo.
E tem o amor de efeito retardado. Você conhece a pessoa há anos, uma amizade linda, com todos duvidando da inexistência de um algo mais, até que. Sim, até que você e ela descobrem, finalmente, um colorido de caráter potencialmente amoroso. Essa aconteceu com uma amiga. Era um happy hour no apartamento dela, com poucos convidados, só amigos íntimos. Depois da fase inicial das risadas, claro, vem a tradicional tristeza coletiva. Até que o Rodrigo, um amigo que conhecia desde sempre, resolveu pôr Gal Costa para tocar, “Vapor Barato”. Pronto. Ela lembrou de “Terra Estrangeira”, o filme mais emocionante de toda sua vida (uma vida de 17 anos, diga-se). Olhou para ele. Ele estava com os olhos mareados, cantarolando talvez eu volte / um dia eu volto / quero esquecê-la… Sim, o amor da vida dela só podia ser alguém que se emocionasse com “Vapor Barato”, mesmo que, depois de algumas taças de vinho, até Sandy e Júnior o enternecesse a ponto de levá-lo às lágrimas. Paixão total.
Dia desses li numa revista universitária um artigo científico sobre o tema. Sim!! Pesquisa acadêmica sobre o amor. Achei super interessante. Não creio que tenha entendido na sua totalidade, o que não impede de eu ter achado interessante. Substâncias químicas que se liberam no cérebro durante o processo de sedução, impulsos nervosos que aceleram a produção de não-sei-o-quê durante um afago, enfim, uma série de explicações científicas sobre esse negócio de se gostar demais de alguém. E até um conceito de que isso que chamamos de amor… (Oh !!) Não existe. Ele seria um “impulso de atração entre o macho e a fêmea que, por uma série de circunstâncias, pode se tornar de longa duração”.
Nélson Rodrigues dizia, de forma mais bem elaborada do que vou transcrever agora, que todo amor é eterno, e se a relação termina, é porque não era amor. Convenhamos que, mais fácil do que a paixão acontecer, é ela acabar – vide Chiquinho Scarpa e condessa (?) Carola. Lembro que, às vésperas de se casarem, vi no Amaury Jr. (eu assistia sim, e daí ?!) ela dizendo que ele “era um cavalheiro”. Alguns meses depois, o cavalheiro já tinha virado canalha, cafajeste…
O certo é que, num dia preguiçoso de frio como esse, isso tudo é muita filosofia-de-falta-do-que-pensar para minha cabeça. Pra quê queimar os neurônios em busca de um conceito meramente abstrato ?? Eu vou é pôr o Caetano para cantar “Samba de Verão” e chamar a minha bonitinha para ouvir comigo, com chocolate quente e pipoca, que eu ganho mais. Os acadêmicos que se entendam.