Sentei-me aqui para escrever uma crônica e percebo, de repente, que essa obrigação me assusta. A quietude da casa, as paredes opacas me cobrando palavras… além das horas que voam e vão dando flechadas no meu peito como se zombassem da minha incapacidade.
Olho pela janela em busca de alguma inspiração e só vejo pessoas passando apressadas, erguendo a bandeira do trabalho e nem imaginam que aqui de cima eu as observo com o intuito de escrever um texto. Se soubessem, diriam que esse meu ofício é uma prisão. E não estarão enganadas, toda maneira de viver é uma forma de prisão e a gente só suporta essa prisão em virtude da alegria do amor. Aliás, toda alegria é amor. E amor é uma alegria triste. Que incongruência!
Ando meio confusa, precisando entender as coisas, a essência do que me escapa, os sentimentos que me habitam. Nada me ensinaram a respeito da alegria, tampouco a respeito da tristeza e sobretudo dessa capacidade de sentir as duas ao mesmo tempo. Alguém é capaz de explicar essa dualidade?
Multivariadas sensações proporcionam-me metamorfoses estranhas que me intrigam. Ás vezes acho que escrevi tão bem que me sinto uma borboleta atingindo o coração de Deus. Então, ele me olha orgulhoso, me chama filhinha e me leva a provar, através das letras, um pouquinho do verbo divino. Outras vezes sinto que sou uma lesma querendo andar de pé e que o máximo que consigo é deixar meu rastro viscoso e nojento sobre a terra.
Não, não me venham com palavras de consolo, nem explicações científicas, que não me interessam. Quero definições simples, como aquelas do povo da roça, que não têm nenhum nexo mas apaziguam a alma. “Felicidade, minha filha, é ouvir o coração de Deus”, disse-me outro dia uma senhora prosaica. E eu tão presa à teorias, silogismos e formas não consegui compreender. Porém, imagino que deva ser uma felicidade que não se conquista, mas que é doada, assim de graça, aos puros de coração.
Enquanto isso, vou acalentando minhas pequenas felicidades com muita ternura. Vou espalhando-as pela casa, pelos textos, pela vida. A mais querida delas é tão diminuta que está abrigada em meu ventre e se move com as limitações de um feto numa composição de algas e corais. E eu acaricio a bolha que a protege e cuido para que não cresça, que não rompa o invólucro, que não saia nunca de mim! Mas sei que ela irá sair porque a felicidade cresce e vai embora. E nem adianta chorar, correr atrás… felicidade é coisa que não nos pertence e tentar contrariar essa lei da natureza é muito sacrificante. E como gosto muito de mim, não quero ser feliz. Quero apenas os bons momentos, além de continuar nessa alternância de lagarta e borboleta, ou ser as duas ao mesmo tempo. E como diria o poeta Jorge Luiz Borges “Se não o sabem, disso é feita a vida, só de momentos. Não percam o agora”.