Marco Zero – Da Arte de Fingir que Escrevo

Ando precisando de boas idéias. Não, nem vem, não adianta reclamar porque eu vou falar de mim novamente, sim senhor. Pode espernear, me chamar de egocentrista e até procurar coisa mais útil para ler, mas o Mário Prata tem toda razão: por mais que o cronista dê voltas e dribles, é sempre ele que está ali naquele espaço.
Desculpem esse meu mau humor, acho que comecei meio pesado. Mas, para falar a verdade, esse é um jogo sujo que às vezes funciona comigo. Forçando esse estado de poucos amigos, sou necessariamente obrigado a buscar bom humor em algum lugar. Não, não estou numa maré baixa nem em depressão maníaco-depressiva, também não sou tão problemático assim, né? E nem é stress ou cansaço. Eu mesmo não sei que diabos eu tenho! Às vezes me pego deitado na cama, olhando para o teto. Só me dou conta de tal ridículo quando alguém me lembra que estou deitado na cama, olhando, exatamente, para o teto.
Outras vezes sinto uma compulsão em não fazer absolutamente nada, numa verdadeira contemplação da inércia. Por que esse preconceito com o sedentarismo? Será que há algo errado comigo? Acontece com vocês? Eu sabia que não, só perguntei porque esperava que alguém me desse uma força, mas tudo bem.
Sobre o quê escrever, afinal? Eis a eterna dúvida. Assuntos, milhares. Só que não bastam, preciso é de uma boa idéia que me dê um empurrão e eu desembeste a bater no teclado até sair, pelo menos, uns cinco, seis parágrafos, porque isso é o mínimo num texto que se pretende digno. Penso em falar sobre futebol. Desisto quando lembro do fim de feira que virou meu time e os últimos reforços (?) da diretoria. Cuba, talvez. Minha fase revolução, vira e mexe, volta. Assisti “Buena Vista” e fiquei maravilhado. Acabo de ler “Trilogia Suja” e fico melancólico. Queria mesmo era ficar mais ou menos. Não, sei que se eu escrever sobre a ilha vai sair um discurso fajutamente panfletário e não!, não vou falar mal do Fidel, podem tirar o cavalinho.
Veja que chegamos ao quarto parágrafo desta crônica e vocês ainda não sabem qual é o mote dela. Tudo porque eu, o autor da referida, também não sei. Vou ser sincero: comecei a escrever imaginando que uma mísera ideiazinha inteligente surgisse no decorrer dessa enrolação toda e que vocês não… peraí! Se vocês perceberam que estou enrolando desde o início, vocês não estão mais aí e eu estou escrevendo para interlocutores ausentes, é isso? Ora, e eu aqui em crise de sinceridade com os meus leitores!
Aos sobreviventes: olhem para baixo. Falta pouquinho, agüentaram até aqui, agora fiquem. Tudo o que me ocorre neste instante se resume a uma frasezinha besta, mas que eu adoro: “o mundo anda meio complicado”. Mas sei que não dá mote, parece mais slogan de cigarro. Aliás, ando numa fase extremamente produtiva de achados e citações pedantes. O que acham desta: “a felicidade está nas pequenas coisas”? Calma lá, porque pior do que ela ser horrível, é eu acreditar piamente nela! Acho que cheguei no xis da questão: talvez seja a ausência desses micropedaços de felicidade que está me deixando sem boas idéias. Pôxa, não custava nada que a Mariane percebesse finalmente que tinha uma queda por mim, sim. Pequena, mas tinha. Ou que o Edmundo (ele aí, dando sopa…) voltasse e o Basílio fosse devolvido imediatamente. Basílio? Convenhamos… Ou quem sabe se resolvem, de brincadeira, jogar o Gugu naquela banheira dele, e ele, sem espírito esportivo, se zanga e resolve tirar o programa do ar, se mudando definitivamente para Adis Abeba. Pequenas coisas. Tudo lindo.
Só o que eu quero mesmo, de verdade, é que a intuição não volte a me deixar na mão noutro desses meus apuros de criatividade, para eu saber, pelo menos, sobre o quê escrever da próxima vez. Sem ter que enrolar.