Um de meus telefones tocou, indeciso fiquei sem saber se atendia ou não. Eu não dei este número pra ninguém,
quem será? E mais, essa linha é exclusiva pra Internet. Deve ser a mulher da LBV querendo uma ajudazinha pros
cofres do Paiva Neto, ou umas destas moças robotizadas da Telefonica querendo enfiar seus serviços goela abaixo
de mais um cliente otário. Peguei, ouvi do outro lado alguém insistindo em falar com qualquer infeliz que
propusesse a ouvir.
_ Alô! Alô! Alô!… Quem fala?Tá ruim demais esse trem…! Não dá pra ouvir quase nada!
_ Romeu, boa tarde, pode falar. Estou ouvindo.
_ Tá péssimo! Não ouço quase nada, quem é?
_ Sim, com o Romeu que você está tentando falar; e por que você não ligou na linha antiga? Funciona direitinho,
isto, quando a Telefonica permite.
_ Espera aí, não sai não! Vou ligar na outra…Você espera?
_ Não perca tempo, ligue, estou aguardando…
_ Ah! Agora sim, tô ouvindo. Sabe…
_ Se você não falar, não sei não.
_ Um convite, aceita?
_ Dependendo da coisa que a gente…, posso aceitar seu convite. E começou dizendo com uma certa convicção,
que ela não pode saborear pão de queijo tradicional, porque faz mal à saúde, porque tem ovos, tem banha, tem os
cambaus, tem muito colesterol…Mas comprei uma massa light, esta eu e você, poderemos comer…Você também
necessita de perder uns quilinhos, né? Ou continua durão como sempre, quase caindo os pedaços e afirmando que
está bem de saúde?
Acabou me convencendo a aceitar o convite, fui lá no apartamento 69, o dela. Em uns 10 minutos assou numa
assadeira retangular seis ou sete pãezinhos light. Juntos saboreamos aquela massa mal assada, seca,
esbugalhada, sem sabor de nada, mais pareia que eu estivesse roendo um pedaço de isopor.
O que me intrigou, foi que a minha amiga comia com uma vontade e agilidade descomunal; enquanto eu consegui
comer um, ela comeu uns quatro ou cinco pãezinhos. Disse ela que não pode comer o tradicional porque contém
gordura e gordura faz mal à saúde. _ Sei disso, _ respondi. Fiz um tremendo esforço pra não demonstrar que
estava morrendo de vontade sorrir; ela comeu os quatro ou cinco pãezinhos, e a cada pedaço ela passava um
monte de manteiga; sim, manteiga mesmo e não margarina. Bem, gosto não se discute. Indaguei de meus botões:
De que adianta comer a massa light (baixo em calorias e gorduras) com um pote de manteiga de uma só vez? No
mínimo ela comeu uns 300g da tal manteiga concentrada. Não é a -toa que tem naquele corpo uns 110 Kg de carne
e banha. Mas reclamando que só pode comer alimentos light e diet. Além de tudo com um grau de diabete muito
elevado _ Disse ela.
Ela não conseguiu forrar o estômago com toda aquela massa do pão, colocou numa panela um pouco de milho de
pipoca pra saborear mais essa guloseima. Ah, em lugar d’ela colocar óleo, sim, desses óleos que dizem não ter
colesterol, colocou mais umas três colheres da tal manteiga. Sal ela não colocou na panela de pipoca; nem
precisava mesmo, aquela manteiga era super salgada. Depois de pronto colocou sazón, na dita pipoca.
A cachorrinha da raça pinscher, dela, choramingava o tempo todo pra saborear umas pipoquinhas, coitadinha!
estava proibida de comer. Enquanto minha amiga passava café, eu dei umas quatro ou cinco pipocas pra
cachorrinha saborear, mas escondido, senão já viu. Num dado momento fingi que havia caído uma pipoca de minha
mão, mas fiz a propósito, justamente pra cachorrinha ter a oportunidade de saborear um pouquinho mais. Quando
minha amiga viu aquilo, soltou um grito de mais ou menos 90 graus decibéis, que até eu fiquei assustado:”Ela não
pode comer pipoca! Faz mal pro intestino dela!”
Dali a pouco minha amiga começou a procurar alguma coisa que supostamente estivesse guardado num copo ou
numa outra vasilha qualquer; revirou o armário, e a gaveta, tanto insistiu a procurar que me preocupou, indaguei “O
que você procura?”. _ Alkaselser. Ai! ui! ai!
_ Você está passando mal, eu ligo pro seu médico?
_ Não precisa. É sempre assim quase todos os dias. Logo passa…
Por pouco ela botava todos os pães de queijo pra fora misturado com pipoca e sazón. O alkaselser ela não achou,
mas colocou uma boa quantia de sal de fruta num copo d’água e: gut…gut gut… Goela abaixo, dali a pouco ficou
boa, prontinha pra saborear qualquer coisa que pintasse pela frente. Foi o que deduzi.
Coitada de minha amiga me convidou com muito prazer pra tomar o café com ela, e eu fico criticando. Mas que
aconteceu? Aconteceu. A cachorrinha dela é testemunha. Se eu não estiver mentindo, hum? Muriçocas que me
atormentem…
Desculpe! Meu caro leitor (a), minhas pinoquíces…