Sou negra 24 horas por dia e tenho orgulho da cor que Deus me deu mas o preconceito transpassa meu coração.
Nas lojas sofisticadas dos shoppings, já notei vendedoras(tão amáveis com as brancas), me atenderem de forma pouco amistosa, mesmo sabendo que quanto maior minha compra, maior sua comissão. Mesmo assim, algumas pessoas parecem não ficar a vontade em vender roupas de griffe para uma negra de alto poder aquisitivo, como se me devesse restar sómente a herança dos farrapos da era da senzala.
Continuo negra, quando estaciono meu BMW num estacionamento e o manobrista me olha com olhos estatelados.
Sou a exceção das exceções, nessa sociedade onde os negros geralmente só conseguem ascenção financeira no meio artístico ou esportivo.
Decidi participar da passeata do orgulho gay, apesar de não ser lésbica nem ter amigos homossexuais.
Fui por solidariedade pois, sendo uma negra observadora, percebo até o preconceito velado que se manifesta nas entrelinhas, contra pobres, nordestinos, homossexuais, negros etc.
Eu e meu poodle, Jordan, fomos na linha de frente, onde estava mais calmo.
Notei duas negras de meia idade, ostentando a faixa de uma revista dirigida às lésbicas.
Pensei: Essas duas, sofrem três tipos de preconceito pois são mulheres, negras e provavelmente homossexuais.
Fiz amizades, tirei fotos, vi muitos artistas, assisti ao show do Edson Cordeiro e voltei para casa feliz pois minha presença foi uma gota no oceano, entre os 120 mil participantes, mas eu prestei minha solidariedade a todos aqueles que são constantemente atingidos pelo preconceito e desse assunto, eu entendo.