E nem precisa de muito…
Dia desses, saindo no meio de uma aula chatíssima de inglês para desestressar a mente e tomar um café, encontro o João, grande companheiro de discussões filosófico-existenciais. Ele também havia saído há pouco da aula, para tomar café e desestressar a mente, não necessariamente nesta ordem. Como de praxe, tipicamente João, me indaga à queima-roupa: “Cara, o que é a felicidade?”. Boa pergunta. Se eu tivesse sido sincero, o teria deixado em crise maior, porque essa é uma das grandes dúvidas que também me aflige de tempos em tempos, desde que concebo isso que chamamos de mundo como sendo, mundo.
Não lembro exatamente qual foi a minha resposta. Até porque, opinião por opinião, a gente vive tendo aos borbotões e, mudanças de, temos aos borbotões em progressão aritmética. Se me conheço o suficiente, devo ter respondido o que ele não queria ouvir, sem intenção de aborrecê-lo, mas apenas para gerar uma polemicazinha e, assim, eu ter acesso ao seu ponto de vista sobre aquela que Frank Capra diria não estar à venda.
Concluo o seguinte: somente as três pessoas verdadeiramente felizes deste mundo (entendendo-se a felicidade na concepção extremada da coisa) teriam esta resposta. No entanto, cada uma por motivações diferentes. Vejamos: Fernando Pessoa, por poder se gabar de ter escrito Tabacaria; o Marcos Frota, por ser o senhor Carol Dieckman; e o J. R. Duran, é claro.
Acho que foi Vinícius (não tenho boa memória, se não for ele, me desculpem) que veio com um papo de felicidade, via amor e farofinha. Um tanto exótico, convenhamos. Mas, se tivermos que recorrer a alguns recursos da realidade palpável, então a felicidade é viável com pouco: ao lado daquela moça-que-foi-feitinha-pra-mim de cada um, qualquer filme do Fellini, um fondue de chocolate em noite chuvosa, uma comédia do Veríssimo, um passeiozinho em Bali ou um samba do Paulinho, já tá bom demais. Humpf, assim até eu sou feliz. Muito esperto o poetinha…
Só que, ceticamente falando, não é tão simples assim. Até porque… e depois? A gente é feliz para quê? Aquela menininha de coração selvagem da Clarice já questionava, “depois que a gente é feliz, o que acontece?”. Será a felicidade uma utopia? Um fim em si mesma? Complexo…
O que guardo da conversa com o João é que estaria “faltando algo”. No fundo, algo sempre falta, mesmo que os níveis de carência sejam baixos. Putz, “níveis de carência” é pra fim de crônica, hein? Admito. Já está acabando mesmo, então força, pensemos juntos: se a felicidade, como a lateral-direita da seleção, não existe, então é melhor começarmos a nos conformar com a idéia da tristeza irremediável. Melancolia, depressão… Nélson Rodrigues, outrora, dissera: “Sou um triste”, e foi quem foi. Goethe exagerou um pouco com seu Werther, mas Saramago chegou ao Nobel com seus cães ladrando e aquele olhar de dolorida poesia. Ser triste também pode ser interessante. E para dar vez à tristeza, nem precisa de muito. Olha aí, o Luxemburgo já deu o primeiro empurrão…