Hoje é Sexta-feira

Tudo que eu queria era um mote.
Recebi hoje, Sexta-feira, um e-mail que dizia, de maneira um pouco mais elaborada do que vou reproduzir, a seguinte: frase: “Eu é que estudo letras e você que me escreve poesias?”. Além de aluna da FFLCH trata-se de uma moreninha mignon. muitíssimo atraente. Imbuído de uma massagem no ego e de uma motivação testosterônica, resolvo: “Vou escrever-lhe mais um poema!”
Penso em usar a velha tática de contar alguma coisa de modo metafórico. “Ligaram o astro – rei…”. A maneira com a qual descrevo o nascer do sol já me indica que falar do dia não será uma boa idéia. A aula de sociologia me instiga a falar sobre a desigualdade social, a difícil escalada dos países do terceiro mundo, o naufrágio do comunismo…, Decido parar. Gostaria que ela ao terminar o poema sorrisse e não que refletisse sobre Marx e Webber. Relacionamentos passados? Não é uma boa idéia… Apesar de ser um assunto farto, decido economizá-lo para uma eventual sessão de terapia. Lanço mão de meus conhecimentos mitológicos. Afrodite, Eros, Dionísio…nenhuma divindade parece estar interessada em me dar uma mão. Cito Camões e a nau naufraga. Cito até mesmo Herbert Vianna. Caio e levo o coice bem no meio da inspiração. “Isso é coisa de boiola!” brada “sêo” Wagner. Obrigado pai. Agora não consigo parar de imaginar Clóvis Bornay cercado de plumas frente a uma Ollivetti dedilhando uma ode a alguma colombina barbada! Definitivamente nada inspirador.
Há momentos em que a gente até quer ficar deprimido para ver se encontra assunto. Onde está Lord Byron quando se precisa dele? Renato Russo e suas paredes pintadas? Cazuza e suas idéias que não correspondem aos fatos? Ah, lembrei: felizes em seus respectivos túmulos. Acredito que um banho possa ajudar. Entre ensaboadas e enxaguadas vasculho todos os cantos do meu cérebro atrás daquele “click”. O resto de inspiração que ainda latejava junto com a veia poética parece ter descido junto com o xampu pelo ralo do box. A televisão, velho tubo companheiro, bem poderia me dar uma força. É, convenço-me de uma vez por todas que a Copa Mercosul de futebol realmente não combina com poesia. O que rima com Ronaldinho Gaúcho? E com Rincón?
Desisto. Hoje não consegui nada. Espero que a minha moreninha também goste de crônicas.