Voltando para a casa da minha mãe, revivo o passado. Numa caixa de papelão, onde meu pai guardava seu chapéu , lá estavam os cadernos, os diários , memórias de mim, memórias de uma história.
Tantos registros de momentos inesquecíveis. Era uma magia, uma caixa mágica. Onde lá estava revelada minha infância, minha adolescência. Vivências com um toque de poeira, mofo e sal.
Guardados naquela caixa estavam pensamentos, flores secas, cartas, disparates era assim que chamávamos o caderno de perguntas e respostas que fazíamos aos amigos, principalmente, aos paqueras. Um ano, um caderno, velhos amigos, novos amigos , novas perguntas, novas curiosidades, novas crenças, transformações do tempo implacável.
Fotos 3×4 de quem, mesmo antes da Internet, acreditava na amizade, na convivência com pessoas de outras cidades, separadas somente por distância, espaço, unidas por idéias, ideais juvenis. Além das lembranças, da cumplicidade, das afinidades que cada um acreditava ter, havia uma foto para comprovar a existência.
Os poemas também estavam lá, com rimas, com letras de grandes poetas, com letras das minhas emoções. Revê-los foi sentir toda a inocência e intensidade dos sentimentos sem nome, sem verbo, sem nexo, porém, verdadeiros, sinceros, profundos em sentir simplesmente.
E junto a eles, colado com durex, um saquinho de pipoca (beija-flor), lembranças de um dia colorido. O sal da pipoca estava lá, reafirmando o amor pelo amor, reafirmando a beleza dos gestos, dos infinitos gestos que marcaram toda uma trajetória. O sal da pipoca. O sal da vida.