Derrubemos cercas

Somos construtores de cercas. Não falo do arame farpado que o Movimento dos Trabalhadores sem Terra corta, mas das cercas do coração, embora as duas sejam muros.
Às vezes, cercamos a casa, fazemos dela um “bunker” para fugir de possíveis assaltantes. Em nosso relacionamento cotidiano, a fortaleza é construída pela arrogância e pela teimosia.
Se o fazendeiro contrata pistoleiros para rechaçar os invasores de suas terras, no relacionamento interpessoal expulsamos o outro com palavras afiadas.
As palavras são armas que podem matar, mas também alimentar. Veja a faca de churrasco. Enquanto o ferimento da arma cicatriza, quando não mata, as palavras lâmina matam o amor, a amizade ou cortam fundo o coração.
Há uma parábola apócrifa, pelo menos desconheço o autor, que conta a história de um menino de gênio difícil, bravo, raivoso.
O pai lhe deu uma caixa de pregos para que ele os fixassem numa tábua. No primeiro dia, ele enfiou 40. Assim, ele foi se acalmando, acalmando, os pregos fixados diminuíram, diminuíram a cada dia, até não perder mais a paciência, conter seu temperamento.
Correu contar a descoberta ao pai. Este lhe pediu para arrancar todos os pregos. E o filho obedeceu às ordens paternas. Depois da tarefa terminada, chamou o velho para verificar o serviço feito, que disse:
– Você arrancou os pregos, reparou o erro feito, mas os buracos continuam. A tábua nunca será a mesma.
É verdade, as palavras lâmina cortam, ferem, enlouquecem nosso espírito, mas considero o perdão mais forte que tudo isso. É só nos colocarmos ao rés do chão, onde sempre deveríamos estar. Se meu amigo errou, se minha namorada ultrapassou, quem sou eu para julgá-los, pois meus erros são piores.
Derrubemos as cercas do ódio! Feliz Natal!!!