Vai Dizer que não Tinha Percebido? Esse incompreensível universo feminino…

É incalculável o número de pequenas coisas – miudezas mesmo – que, por implicância, por sacanagem ou por mera curiosidade, a gente repara, não sabe do que se tratam (ou porquê são daquele jeito), mas evita a tão banal pergunta: “Mas, afinal, o que é isso?”, ou “para que serve aquilo?”. Para nós, homens, se colocássemos para as mulheres todos os pontos de interrogação que nos atormentam em relação ao universo delas, então, haveriam perguntas que não acabariam mais.
Literalmente impossível que você, caríssimo leitor, já não tenha se surpreendido olhando mal-disfarçado para aquele brinco esquisitíssimo da Carmen sem ter se indagado se ela devia mesmo achar aquilo bonito. Por certo, há toda uma representação ontológica afro-energizante que aquele objeto representa para ela e que você desconhece. No entanto, por uma dessas vaidades (ou seria constrangimento?) de evitar a pergunta por medo de represálias ou incompreensões da parte dela, você ficará sem saber qual o verdadeiro motivo de ela andar com aquilo pendurado na orelha, e o que é pior, com você tendo que acompanhá-la até a cantina da faculdade, passando por seus conhecidos com aquele sorriso amarelo de “não tenho culpa”, esperando que eles compreendam. Eles não compreendem.
A hipotética situação acima ilustra, é claro, um fato isolado. Acho até que muita gente deve ter pensado em algum exotismo similar numa pessoa próxima, como a da querida Carmen (ela é baseada em Karmen real, com “K” mesmo, mas a origem disso eu descobri por conta: a mãe é “Katarina”, e o pai, tcheco, “Görkmen” – para não dar na cara eu mudei o “K” pelo “C”, entenderam, né? Só não me perguntem a respeito do “r”, eu não sei). Só que o pior de tudo são as situações que todo mundo vê, estão ali, tão incompreensíveis, que até parecem naturais. E se ninguém fizer o favor de perguntar, continuaremos todos sem saber, mortos de curiosidade.
Alguém, então, me explique, por gentileza, por que é que os bolsos traseiros dos jeans das mulheres sumiram? Foi tudo tão de repente, quando a gente menos esperava, Pluft!, saíram de cena sem deixar rastros (a sonoplastia foi por minha conta, se houve mesmo eu estou apenas supondo). Convenhamos, é algo que todo mundo percebeu e se pôs a imaginar, “que fim tiveram?”, sem ter chegado a conclusão alguma. O mais instigante é que, maior que a surpresa só a estranheza – e não pelo simples fato dos bolsos terem sumido, mas por eles terem existido antes de sumirem! Não entendo a etapa do “terem existido”. Ou alguém vai querer me convencer que eles tinham utilidade para as mulheres? Eu, pelo menos, nunca vi nenhuma moça tirando grosseiramente uma carteira de dinheiro amarrotada de dentro deles, como nós, homens, fazemos. Nem a Carmen.
Agora, teve uma outra coisa aí que me deixou em crise de idealismo. Se tem uma parte do corpo feminino que verdadeiramente me fascina são as mãos. Eu sempre tive comigo que só me apaixonaria de verdade por “ela” depois de me apaixonar, primeiramente, pelas mãos “dela”. Há toda uma significação numa mão feminina, às vezes passada alheia à própria dona: sensibilidade, delicadeza, feminilidade, poesia até, pelo tamanho, pelo formato, pelo contorno, pelo cuidado com as unhas. E não é que resolveram inventar um esmalte preto, meio expressionista, e acabar com o deleite visual de uma mãozinha de mulher? Porque, para se entender a preferência por unhas negras ao invés de dedinhos naturais sem maquiagem, só a lógica de gostar do brinco da Carmen sem estar fazendo média com ela.
Ou eu sou o do contra, ou o mundo não vai com a minha cara. Será que só eu vejo tudo isso? Será que só eu não gostei do brinco da Carmen? Será que só a mim o esmalte negro desagrada? Alguém me ajuda, por favor…