Você tem, nesta edição da Nave da Palavra, a oportunidade de ler o texto integral do Sermão da Sexagésima, escrito pelo Padre Antônio Vieira, barroco sermonista, em 1655 e pregado na Capela real de Lisboa.
No texto, é possível verificar um Vieira tipicamente conceptista, ou seja, nele o jesuíta tenta convencer através dos jogos de idéias, conceitos, a outros jesuítas que o escutavam pregar o sermão.
Era tempo da Restauração portuguesa e aqueles padres não desejavam mais sair para as colônias ( Brasil, África, Índia, China); preferiam ficar na metrópole onde podiam ser confessores dos nobres, pregar para o rei e a corte.
E Vieira, sabendo da missão dos jesuítas, prega o seu sermão no sentido de convencê-los a caminhar mais passos ( levar adiante a palavra de Deus) e não apenas obterem mais paços ( palácios, pregar apenas nos palácios).
Predomina no sermão a função metalingüística da linguagem: é um sermào que trata de como se deve pregar…
Há uma beleza fundamental na linguagem vieirina: a de buscar recursos de compreensão da importância de levar a palavra de Deus aos homens. O eixo do sermão é Verbum est semem Dei , ou seja, o pregador semeia no coração do homem a palavra de Deus e faz com que ela brote em boa terra.
As imagens usadas por Vieira denotam também um exemplar jogo metafórico que toca a profundeza do coração humano. Lembre-se de que os sermões dividiam-se em cinco partes:
1. Proposição ou Exórdio: aqui o sermonista indica sobre qual passagem bíblica vai pregar: mostra o tema do sermão, sempre ancorado numa proposta bíblica;
2. Intróito ou Exposição: mostra como pregará, quais recursos serão usados na pregação. ( Em Vieira predomina o conceptismo);
3. Invocação: Invoca a Virgem Maria, a suave mãe de Jesus, que era a santa de sua devoção;
4. Argumentação: é a parte mais longa do sermão; aqui o tema é desenvolvido e Vieira tenta provar que o homem vive no mundo na condição de pecador que deve arrepender-se de seus pecados.
5. Peroração ( conclusão): Momento final do sermão, é nele que o sermonista implora aos ouvintes que sigam os conselhos, exemplos da pregação; e que apliquem na vida prática, cotidiana, o que acabaram de ouvir. Esta parte é também chamada de Epílogo.