Duas narrativas e dois heróis
A lista da FUVEST deste ano traz dois livros que podem ter confrontados seus heróis: O Guarani, do romântico José de Alencar e Macunaíma, do modernista Mário de Andrade.
Setenta anos separam as publicações e a tipologia de herói: Peri , o protagonista do primeiro romance, é calcado sob o signo do Bom, Belo, Justo e Verdadeiro: descrito como perfeito, fiel, é uma espécie de gentleman inglês construído por Alencar: nele não há nenhum deslize de ordem moral, é inteligente, dedicado, capaz dos maiores sacrifícios por Ceci, a quem ama.
Macunaíma é denunciado no subtítulo do livro ( “herói sem nenhum caráter”): é malandro, mentiroso, adora sexo, infiel até à família, sua diversão era “decepar cabeça de saúva”, “brincar”… e seu grito de guerra era : “Ai, que preguiça!”
Há uma distância enorme entre os dois. Mas é preciso considerar que ambos representam bem a brasilidade, ambos têm a mesma origem: a raça indígena. Enquanto a mãe de Macunaíma um dia “pariu uma criança feia”, o índio Peri abandonou honra da tribo, admiração dos guerreiros, amor das mulheres e desvelos da mãe para seguir a tradição cristã, dedicar-se a guardar e amar Ceci.
Diferentes em tudo, eles representam concepções também diferentes das escolas literárias a que pertencem. Pense nisso.