Uns dedos
com as pontas explosivas
encantadas
estariam flutuando
sobre o corpo
Como faz um instrumento
a raio laser
que ao cingir uma ferida
promove uma explosão
microscópica
de vida
Faíscas saltam
para todo lado
a espalhar
Alma a Voar
Desce a noite sobre esta casa
A pousar estrelas no meu pensar.
Meu coração se transforma em brasa
Com este desejo de me pôr a voar.
Não adianta fechar as janelas
É de outra casa que estou a falar.
Dentro de mim, içam-se as velas
E sempre parece um recomeçar.
Ah! Tantos versos se vão repetidos!
Desprendimento
Pedaço de terra brasilis,
segui por outros Caminhas
Em mim plantei
Tudo dei
Dublê de Alma e Outros Poemas
Ando à toa na vida
catando cacos
do que sobrou da caminhada.
Pedaços que ficaram
por aí evanescentes
na solidão das brumas.
Há um deserto de coisas & palavras
albergado
no bazar de uma casbá
em que me dão preço
num leilão de
Perda
A margarida desfolhou-se
e o periquito voou,
a andorinha exibiu-se
em suaves figuras aéreas
com suas colegas,
o frio invadiu nossa privacidade,
o céu acinzentou-se,
voltou a clarear,
a cachorrinha correu, alarmada,
perseguindo um gato,
a
Boca de Madrugada Chuvosa a Sugar-me a Alma
O trem da dor
nos trilhos da noite
não tem hora certa.
Cedo seda os dedos leves da rua.
Solidão de amor para mim
é a boca da noite
a sugar-me a jugular.
A dor, o trem, os trilhos, o louco motivo.
A locomotiva no sangue apita.
Palpita no delta
Novena
Concepção no inverno,
primavera, verão em gestação,
digo :
– Fui mulher !
Vida agora é estação outonal,
máscula,
a completar da elipse as estações;
não menos maiúscula, portanto,
a sanha.
Mulher de seio cheio,
de seiva
A Ruazinha
A ruazinha delicada
protegida
pelos arbustos
observava
atrás da janela
aquela mulher
ao teclado
dedilhando sua saudade…
Quando a luz
adormeceu
e o silêncio
abraçou aquela janela,
a ruazinha delicada
aconchegando-se
na madrugada.
Chorou!
Hadado
(escrito entre 1978/1980)
1
una mano ríe en tus ojos
lento bajo
tal espacio
jadeo de la tarde
despierta duermes
2
sueño en tu realidad
tormentas de frío
arden en tu piel
cede la noche míos
zumo de la barbarie
3
camino
Do Que Nada Me Lembro
Ao olhar-me nos retratos antigos,
de quando era pequeno,
de nada me lembro.
Tenho saudades do que não me lembro.
Se pudesse voltar àquele tempo,
quando me brilhassem os olhos
guardaria das coisas a alma junto à minha,
para lembrar-me
quando chegasse ao agora.