Sinto-me despreocupado,
então,
com o meu vestir.
Misturo preto e marrom,
listas horizontais e xadrez,
sandálias e terno e,
até mesmo,
chapéu de lã sob o sol.
E neste descombinado,
pergunto-me,
sabendo que não terei resposta,
porque
A Máscara do Tempo
Todos os sábados o casal de velhinhos, atravessava a rua e iam para o bar da esquina. Ele de nome Silvio, tinha um semblante sério, mal humorado, ela, bem cansada pela idade, tinha feições meigas, as rugas profundas, pareciam marcar a história de sua vida.
Sentavam no bar e o Silvio pedia
Patchwork
Ingrid estava inquieta. Há dias estava presa dentro da gaveta de meias. Até agora ninguém dera pela sua falta! Nem marido, nem filho, nem a mãe, que vinha vê-la todas as tardes. Era tão insignificante assim? Começou a chorar. Puxou um lençol, ou seja, o lenço com o qual se cobria para dormir.
O Gari, o Assobio e o Sonho
Um assobio alegre, vindo por trás do meu banco, quebrou a concentração na leitura do meu jornal. Eu não espero outra coisa quando estou aqui no centro. Quero mesmo sentir minha concentração quebrada. A música começou suave, parecendo muito longe e foi se aproximando vagarosamente. Virei-me
Gosto
Gosto de ser gostada.
Como gosto de gostar…
Na mesma intensidade,
ritmo, cadência,
ardência, prudência,
frequência, querência,
pacência.
Gosto de ser gostada,
porque, como todos
os seres da raça animal,
gosto de carinho e estímulo.
Tarde na Praia
Para Alexandre Anselmo e Maurício Guerreiro,
os ungidos em Bertioga.
O mar arrasta sua grinalda espumante até cobrir de areia meus pés estáticos, estas raízes que se reúnem neste estranho tronco de braços cruzados e óculos escuros. Por trás das nuvens a Grande Lanterna lança
O Homem Com Cara de Mau
Chegou o homem no boteco. Todo estranho, com cara de mau. Pispiava a noite. Arraialzinho escondido lá nos cafundós de Tabuí. Mineirinhos agachadinhos aqui e ali, cada um aprontando seu cigarrinho de palha e tomando uma pinguinha para tirar a poeira da goela.
O homem da cara de mau, logicamente
E O Poeta Rezou
Quando eu era rapazinho, conheci um poeta que se declarava ateu a Deus e ao mundo. Além de fazer belos versos, ele também escrevia ótimos artigos no respeitado jornal de sua propriedade. Na nossa terra, minha e dele, todos temiam o vigor e a irreverência de sua incorruptível pena. Seus artigos
Primeiro Caderno
Domingo, único dia sem o despertador. Acordou. Lá fora, o sol convidando para uma praia. Espreguiçou-se, tomou coragem e, de um salto, levantou. Na praia, encontraria os amigos para a partida de vôlei: o time que perdesse pagaria o chope. Depois da feijoada de almoço, uma boa soneca e, às oito,
Boca-de-cena
Quando naquela noite Leninha voltou do teatro, da primeira vez em que fora ao teatro, ninguém notou nada, dormiam. Mas ela nunca mais seria a mesma, e na manhã seguinte anunciou à mãe: – Vou ser atriz! A mãe terminou de recolher as xícaras da mesa, voltou-se para a pia e fez o comentário