aurora
delírio insano do agora
chave do depois
Pode me chamar de Diamante
Desejo
me manter inteira para a luta
E quero me sentir intacta
força bruta diamante
[visceral]
Para conter em mim toda
e qualquer
parte que reluta em ser alguém
ou em voltar a ser
eu mesma
[no final]
Quero ser irmã
da soma dos cacos que sobrarem
Mãe
da quantia das esmolas que faltarem
e ainda filha
do meu Sol
Da fibra de animal
que tem história
das garras que a genética doou
e foi traída pelas sombras
da memória
Por que se não gritar
que sobrevivo
não vou mesmo poder acreditar
em minha sorte
e o eco deste grito vai ficar perdido
nos vales de angústias
enrustidas
[ou preso num vagão de
carro-forte]
Tentando ser retorno
a uma voz
nascida da garganta em verso atroz
e atirado nos desvãos
desta Avenida
Em que tu
te transformaste
[oh minha Vida]
Estratégia de Preservação de uma Mulher
Embriagando-me
em goles de mim mesma
entorpecida
pelas doses cavalares
de inúmeras palavras que seriam frases
entaladas
atracadas ainda por aqui
Penso em usar
de uma girafa imaginária o seu pescoço
e o estômago
sem fim de um avestruz
E num camelo armazenar o tão imenso
fardo
para por fim um grande urso convocar
a ruminar
em sua longa hibernação
tais elementos que pararam para sempre
o que devia ser
tranqüila digestão
Maneira estranha
de preservação esta que vejo desenhar-se
em minha mente
no embalo de uma doida decepção
de efeito singular e recurrente
e no entanto a implorar que eu possa ainda
conceder algum espaço
a uma vida que se aninha
e se avizinha desse quase
enlouquecer
E sendo assim
catando dados infantis de uma memória
pensei que poderia
desta vez me conceder a quase glória
de gritar por um pedido de Socorro
para uma Mulher
em extinção
E ponderei que não devia ter pruridos
nem esperar um vinde a mim
os destemidos
e sim tornar-me um new greenpeace
de mim mesma
Os animais estão mandando
seu retorno
por seus instintos perceberam que no ato
nada havia de suborno
E se alistaram firmes
fortes como aço
a mastigar a engulir e ruminar
o meu bagaço
Até que possa levantar
de novo o braço
para erguer faixa
ou desfilar qualquer bravura
Entoar canto
em linguagem clara e nua
aliviada
vencedora e preservada
exonerada
dos terrores da tortura