Não tinhas a menor noção,
Nem à consciência advém,
Que ao tocar em minha mão,
Me farias perder o trem.
Viajar adiante, eu precisava.
A parada foi distração.
Minha alma descansava,
Separada da razão.
Encantamento surgido
De uma voz que me dizia,
Que também estavas perdido
E que tinhas a alma vazia.
Por sintonia, o meu afeto
Foi pousando lentamente
Meu coração se fez um teto
A te cobrir suavemente.
Mas outro trem a passar,
Ressoava por teus trilhos.
Era a vida a te convidar
A dar adeus a andarilhos.
Agora meu trem prestes está
A chegar nesse momento,
Foste pra lá e eu vou prá cá.
Sobrou-nos apenas o vento.
Maria Cristina Niederauer é psicóloga
organizacional e trabalha em consultoria de
empresas em Porto Alegre.
TARDE EM TINTAS
A tarde vai indo em tintas
Num dia de qualquer ano.
Um ano para nossas vidas,
quem sabe de Deus, o plano.
Te escuto com a alma aberta,
Meus desejos fazendo a estrada,
Essa, por onde navego incerta,
Esperando surgires do nada.
Luto assim contra meu medo,
que afogo com a lembrança
Das horas de tanto segredo,
onde fui mulher e não criança.
Teu corpo imaginado, junto
Aquecendo minha alma aprendiz,
Um beijo doce, preferido assunto,
Vem cá meu amor, me diz…
Vai, tarde! … passa depressa…
Faz a noite chegar enfim…
Nela o sonho, a dor cessa,
No sonho tu vens prá mim…
GUARDADOS
Tenho um recanto secreto.
Desses que se preservam da infância.
Onde se guardam pedrinhas,
folhas secas, cartas, florzinhas…
E na caixinha de papelão,
coloco ainda a solidão…
Pensando que se lacrar bem,
vão ficar só na lembrança…
Mas qual o quê….
eu ainda sou um pouco criança….