“TEMPESTADE”
Um corisco corta o
espaço,
céu tão negro,
tempestade.
A rua amedronta,
o mato geme,
é dia em noite,
é covardia.
Em instantes
miúdos, abre-se
a cortina densa
de água branca
que machuca o chão,
que sulca a terra,
que molha o homem.
E volta o dia
e volta a vida tão
de repente,
é que é verão.
“COISAS MATINAIS”
Dois pássaros cantam numa janela
Seus cantos se casam
e assanham a boca da gente
num sorriso espontâneo
e o sol nascente
golpeia com raios
cintilantes os dois
pequenos cantores
e quase sem querer
golpeia também o
público rosto amarelo
da funcionária
decrépita do
arquivo morto
que diante de tanta luz
parece feito de ouro.
“TIMIDEZ”
Insensato coração
que tropeça aos botes
entornando a calma
que existe em mim.
Viro confusão
olho para o céu
bem longe do chão.
Sinto o galope de
um cavalo branco
tatuado em nuvem
só por distração.
Meus olhos inquietos
piscam tão brilhantes
de água empoçada
timidez confessa,
rubra e calada,
disfarço com um gesto,
penso num projeto,
qualquer abstração,
ouvindo cansada
os tropeços loucos
do meu coração.