A Volta e outro poema

A primeira vez.
Quando encontrei Mirá
não pude vê-la.
Postava-se diante de um espelho
e as costas me dava.
Buscava descobri-la em vã tentativa,
pois seu reflexo,
(pra minha surpresa)
ao avesso se achava.
Encontrar Mirá
nossa vez primeira.
Sabia que teria
e sabiamente me daria
a resposta
da esperada alforria.
Da hora derradeira.
Era o meu poço
quiçá meu desgosto
Minha delicia.
O medo que atordoa,
minha malícia,
Meu pesadelo mais horrível,
minha hora mais à toa.

Canção para salvar
Novamente vejo e sinto chegando
um cheiro acre de brisa marinha
e na ponta de seu indicador
pedras de sal grosso.
Ponha esse minério em minha testa e me benze
arranque com força essas almas arraigadas
dessa profundeza expire fantasmas
há noites rondam meu leito
seres que arrastam correntes.
Me desate da ancora pesada que estou atado
e não há soltura.
Quero jogar ao mar os meus doentes.
Chegou a sua vez de fazer por mim
minha vida inteira mudar.
Vem muito mais após aquela onda primeira
que só fez derrubar.
Me de sua mão por enquanto
e passe para o meu dedo neste instante
os seus minérios.