Sou um palácio feito em cristal, explodindo em luzes espelhos
Mistura revolta de mármore, ouro e diamantes
Imagens fragmentando quebrando mil pedaços
Miro calada, estranha de tantos reflexos
Silhuetas que dançam nas sombras
O vidro partido é uma espiral
Mergulho nos pedaços coloridos de joias
Cena, outra cena sobreposta
Menina toda loura e azul, suavidade no olhar
Ouço risos travessos de boca infantil
Nos olhamos surpresas
Quem é ela?
Sinto vertigens de dentro pra fora
A pele escorrendo gelada no suor de tantos quartos escuros
Quem sou eu?
O silencio toma forma em outro rosto sereno e jovem
Me fitando tranquilo
O amor que se ilumina magoa meu peito acelerado
Dela para mim fluem jogo de sentimentos tamanho
Me envolvendo num manto celeste e sereno
Quem é ela?
Medo louco roçando meu corpo, respiro e transpiro devagar
Estou parada no vacuo
Rodeada de flores estrelas, crianças mulheres.
Nada entre mim e o mundo
Quem sou eu?
Nova face composta diferente e estranha
Petulante e sensual, esta toda nua
Corpo mostrado, exibido
Quer fazer amor comigo numa ciranda gemida e suada
Se Tu existes, Senhor de tudo, dize-me por favor
Quem é ela?
Sem saída, estou num labirinto , não posso fugir
Escuto o pulsar do sangue, batida louca do mundo
Quero olhar pra dentro
Ver o brilho e as cores de meu ser
Quem sou eu?
Criança-mulher, dançarina embriagada
Mãe de meu filho, puta da noite
Sinto a vida de todas revelando a minha
Estou perdida em outras
Que sou e não sou
Quero e não quero
Posso e não posso
Tempo sem memórias chega com a força das aguas
Que passam e nunca são as mesmas
Quem sou eu?
De repente, machucada e ferida
Leio a verdade no eterno livro de todos os segredos
Sou senhora e escrava, rainha e plebéia, deusa e mulher
Sou masculino e feminina
Sou Cleópatra no Egito, Morgana em Camelot, Jesus em Nazaré
Quebro todos os espelhos rezando uma prece antiga
Ritual repetido em tantas tribos
Todos os rostos se esfumaçam lentamente
Ao final, o misterio revelado
Senhor em que creio e não creio…
Não sou ninguém e sou todas as pessoas.