1. SENDO SENSATA
Está mais que na hora
De ser sensata
Parar de brincar
Com ponta de faca
Que pode ferir
Pode machucar
E o que fere também mata
Mata por dentro
Onde desata
O sentimento
Onde desagua
O pensamento
E antes que vire profunda mágoa
Está mais que na hora
De ser sensata
Parar de imaginar
Querer encontrar afinidades
Em quem ignora
A efetiva afetividade
Está mais que na hora
De ser sensata
E admitir a minha verdade
Da qual
Você nunca quis fazer parte
2. TEUS CAMINHOS
Teus caminhos
São tão estranhos…
Inúmeros em quantidade e tamanhos
Me perco nas alamedas estreitas
Tropeço em troncos caídos
Ainda acabo me ferindo nos espinhos
Tão bem escondidos
Das flores com que me enfeitas
Entre sorrisos e carinhos
Teus caminhos
Se perdem em frases feitas
Quando finalmente encontro
O portão de saída
Mas acabo por me deter
Junto aos escombros
Do que foi tua vida
Sutis assombros…
E começo a refazer
O caminho de volta
Algumas coisas escolhemos
Outras…nos escolhem
Teus caminhos
Agora mapeados
Me acolhem…
Compreendo!
3. O QUE HÁ PARA SABER
Nesta noite
Não me questione
Tenho andado tanto por aí
Tentando me encontrar
Negociando com uma parte de mim
Para que não me abandone
Quando tudo o mais quer se deixar
Levar do tudo ao nada…
O que mais há para saber?
O que mais há para dizer?
Tenho andado a esmo
Passando por tantos lugares
Mas parece sempre o mesmo
O mais inóspito dos lares…
Nesta noite
Não questione para onde fui
Ou para onde vou…
Saí por aí
Mas meu espírito ainda não voltou…
4. DESCIDA AO PORÃO DA MEMÓRIA
E ela desceu ao porão
Degrau por degrau
Da escada
Vencendo o repentino medo
Da curiosidade empoeirada
Poeira do tempo
Em que não importava o segredo
Mas agora precisa saber
O que existe lá embaixo
Tão bem guardado pelo silêncio
Ascendeu a luz
Sentindo um incômodo calor
E olhou vagarosamente ao redor
Como que tentando reter
Cada detalhe num simples olhar
Caixas empilhadas
Algumas espalhadas
Difícil saber
Quantas são
O que tem dentro?
Livros. Muitos livros. Muito lidos
Pega um ao acaso
Capa estranha de entalhe
Dourado…mofado
Só um detalhe…
Abriu curiosa
Aproximando-se mais da luz para ver melhor
A umidade deixa as páginas quase pregadas
E o livro pesa mais
À medida que folheia
Então pára assustada
Deixando o livro cair no chão
Tomada pelo pavor que tanto receia
O grito escapa da razão
Acorda agitada
E não está mais no porão
Senta-se na cama
Agora em completa consciência
Tentando refazer na memória
O caminho de volta
Conhecer sua história
…a porta está fechada!
5. PESSOAS-EMBRULHO
Embrulhados em papel-gente
Pouco
Ou muito presente
As pessoas carregam consigo
(Parece louco??)
Um pacote de qualidades
Defeitos
Desejos
Sentidos
…
Alguns tão grandes
Mas tão ausentes
Outros tão escondidos
Sempre
Em lugares indevidos
…
Somos pessoas-embrulho
Empacotadas
Com ou sem barulho
(São as interrogações
Reticências e exclamações
Que se enroscam a todo momento)
Ao menor movimento
Não dá para perceber no mundo real
E no virtual,
Todos os pacotes são pardos!
6. ENCANTADA
Mal se apresentou
Já sabia meu nome
Trouxe uma flor
E um poema
Seu… de amor
Parecia me conhecer
Há muito tempo
Pouco
Ou quase nada perguntou
(Quando já estou ficando habituada
A responder, responder, responder…)
O silêncio constrangido
Precisava ser quebrado
Me olhava encantado
Enquanto eu vasculhava
Na memória um assunto perdido
Para ser comentado
Até finalmente decidir
em não dizer nada
(Nem era preciso
O sorriso falava)
Então começou a contar
Uma antiga história chinesa
Agora eu estava encantada!
Passamos a fazer um dueto
Intercalado de narrativa
(Atuação provisória)
Conhecia e amava aquela história!
Nos olhamos assustados
(Aquele susto que se leva
Quando o coração é tocado
Como coisa viva
Que finalmente se releva!)
Não éramos mais estranhos
Passamos a ser elementares
E todo o resto
…apenas noções elementares
Num todo encantamento
Tecido em olhares!