Sorriu-me o girassol,
Envolvido em sua própria natureza de estado,
Maravilhado pelos sorrisos que fazia brotar.
Era semente clara que germinava sem água,
Sem sol, sem flor,
A mais linda das sensações.
Talvez, e agora esmorecia seu sorriso,
Quedado pela dúvida indelével,
Talvez fossem poucas suas pétalas
Para tanto deste mundo.
Decidiu perquirir o Sol, que, este sim,
Pintava de cores os céus das almas
E os chãos dos olhos e a terra do chão, constante perene.
Pisava, então, a pobre flor,
Temerosa, a desesperança do auxílio,
Que em gritos lhe sombreava o caminho,
E lhe fazia mais triste, já quase não sorria.
Girassol entrou vestido
De calada resignação,
Pétalas lapidadas pela tenuidade da indiferença,
Orvalho seco, mesmice da certeza.
Não foi além do céu ou mesmo da terra,
Que o Astro lhe entregou a luz.
Fosse a flor que fizesse o grito,
Fosse o grito que reinasse a flor,
Não importa, não importa,
É bonita a mais simples forma
Da beleza, do sorriso, do sentimento.
Fátuo, fátuo, fogo-fátuo
Que domina as sensações,
Pétalas únicas que bordam de traços
O quadro-fato da vida.
Há mesmo quem diga, diga Sol!,
Que ainda o orvalho traz à alma a placidez
Que necessita.
Não muito se engana quem a afirma, peremptório,
A clarividência da história das conjugações.
É mesmo o céu que monta à terra,
O escuro que disfarça o claro,
A forma que destoa do oblíquo,
O homem que varia a si mesmo
E singra, a esmo,
Pela vaguidão plana
De seu desconhecimento.
Não se conhecem os olhos que se vêem
E sabem quem são.
As pequenas coisas é que perfazem o todo,
E completam inteiras o que se pensa ser sólido.
Girassol, minha flor, sê tuas pétalas,
Vive tua pequenez, pois poucos podem
Ser tão belos
Como o detalhe íntimo de um motivo para sorrir.