A maré sobe e desce
As ondas vem e vão
Se lançam forte nas pedras
Jogando espumas cadentes
O sol brioso sorri
De tanto esforço empenhado
Do vento que sopra e ruge
Prá água vencer a rocha
À noite a lua formosa
Com as estrela medita
É um feitiço que existe
Do mar separando a terra
Antes unidos viviam
O mar a terra cobria
Um dia o peixe-veneno
O coração da terra espetou
Dizia que toda noite
O mar namorava a lua
E todas estrelas do céu
Piscavam e ele atendia
Bravia emergiu a terra
Para o seu mar impedir
De refletir o luar
Ou o pisca-pisca estelar
E tanto espaço tomou
Tanta floresta criou
Desertos e cordilheiras
Campinas e serranias
O mar coitado, aturdido
Via tanto espaço perder
E ao mesmo tempo sua terra
No horizonte sumir
Aflito rogou aos ventos
Que suas águas jogassem
Tão longe quanto pudessem
Prá resgatar sua amada
E nesta luta ferrenha
Com tanto amor, persistência
Se joga contra penhascos
Ou beija areias da praia
De dia ou noite não cansa
Tentando desesperado
Vencer distâncias, alturas
E voltar a terra cobrir
Não sabe quem lhe contempla
Que o marulhar é gemido
Espumas são suas lágrimas
De um amor intangível