Não tenho nada a dizer
perdoem-me
não posso falar o que não sei,
o que aprendi a aprender
e desaprendi sem compreender.
Não me perguntem quem sou,
cansei de olhar o meu retrato
guarnecido de incertezas,
os olhos perdidos entre as sombras do rosto
procurando uma luz que o iluminasse
e por momentos dissipasse
a incógnita da solidão.
Não me cobrem palavras
cansei de contar a mesma história
e presenciar as mesmas reações,
cansei das formalidades banais
dos “muito prazer”
dos abraços frouxos
dos beijos ao vento
das promessas falsas…
Não vale a pena falar
dos pequenos infinitos
escondidos no meu coração,
dos vazios insistentes
dos sonhos que não vi florescer.
Não vale a pena insistir
em teorias que não acredito,
em verdades inócuas
que moram do outro lado do mundo.
Para quê os discursos prolixos?
A palavra é um arrimo
de estranha imobilidade
onde apóio o meu silêncio
e deixo sangrar as lágrimas
que não chorei.