TERRA DO NUNCA
tique-taque no corredor da casa
aquele carrilhão gigante
me observando
– olhá-lo do alto da infância
dava até
uma tontura terçã
na ante-sala do apartamento
o mesmo som cúmplice hoje
me acalentando
– ouvi-lo assim com ternura e lágrima
denuncia
minha porção Peter Pan
VORAGEM
Aceita meu convite:
estende tuas mãos prontas
para a viagem incógnita,
imprevisível.
Agarra-te com astúcia
na cabeladura desse vento
melodioso
e voa comigo para o desconhecido
– terra misteriosa que abriga
amores nômades,
febris.
Dentro d´alma, o eterno conflito:
viver o amor em conta-gotas
– para sempre –
ou deixar a paixão explodir
no peito transtornado?
Voa comigo às cegas
e verás
um paraíso apenas consentido
aos amantes desvairados,
que vencem o temor
esculpido nesse improviso.
Aceita meu convite:
não espera o tufão virar brisa,
a cor esmaecer,
os versos impecáveis
perderem o sentido.
AMOR BANDIDO
Pressente o pranto
a hora exata
– espoucar de aragem
salífera –
visão turvada,
furtiva lágrima
aberta
em desencanto.
Aviso natural,
gosto sombrio
– frágil acolhimento.
Encosta súbita,
rutilante
– caudaloso rio
de águas errantes.
Abandono dissonante
agridoce momento,
dor enlouquecida
– gozo e tristeza
em alternância
explícita.