Mas olha só, veja que dó
Como é que pode
alguém viver
assim a só
o coração cheio de pó
e abandonado
põe logo uma plaquinha escrita: “Ó
se alguém quiser aproveitar um coração na promoção meio usado por um real ou um vintém o coração tá alugado.”
Tem muito tempo decidiu:
“Tô cansado de ser surrado não tumtumteio pra ninguém mesmo que seja ameaçado.”
Se alguém quiser ainda alugar
Acho que tenho um lugar vago
O coração era duplex
E tinha quarto conjugado
Discuto juro, preço, prazo
Faço tudo tabelado
E se o cliente for levar
Eu só lhe peço um cuidado
O coração era ruim
E ele tá meio enguiçado
Mas se passar um panozinho
Nos pedacinho enferrujado
Ele fica novo em folha
Poucos quilômetro rodado
Eu já entrei com um pedido de falência ou concordata
Pra essa sucata que eu levo no lugar de coração
Ou petição de miséria pra esse invólucro de lata
Ou me mandar para o Japão, Timbuktu ou Rio da Prata
Eu já apelei pro Alcorão, pra Bíblia, pro Mahabarata
Já experimentei execução, extrema-unção e deu em nada
Vou me internar na reabilitação
Ver se em dão à prestação
Um boca a boca caprichado
Vou abrir conta corrente de indigente
E vou deixar no prelo o cadeado e a corrente
Se essa estúpida empreitada por amor
Acabar virando piada
Vou procurara liquidação de alguma droga mais barata
E se um locatário coração
Me procurar
Diga-lhe que vou estar
Onde não possa me encontrar